Celebre o nada.
Quando há calma e nada acontece.
Faça uma prece.
Quando a dor se cala e tudo fica leve.
Aproveite o intervalo.
Seja grato pelo que teve.
Pela harmonia do tédio.
E ausência do caos.
Porque o silêncio também merece a nossa gratidão.
– Noemi Prates
foi um feriado intenso. desde 2019, a família de juiz de fora se reúne 1x por ano para celebrar a vida, os bons encontros, a dádiva de estarmos juntos mais uma vez…
na estrada, uma notícia inesperada: um grande amigo, novo, com a vida pela frente, estava em estado grave no hospital; segundo os médicos, “com uma lesão que era incompatível à vida”.
imediatamente meu corpo respondeu: palpitações, mal estar, cabeça aérea, como se o mundo parasse.
C O M O A S S I M ?
dani tinha 37 anos. um cara íntegro, disciplinado, metódico e sarrista desde o primeiro dia que o conheci, 20 anos atrás, na escola onde estudamos juntos. alguns anos depois, nos reencontramos trabalhando juntos na prefeitura, ele como jovem aprendiz, eu como estagiária. eram dias leves, coquinho era pequeno no tamanho mas gigante no coração.
tempos depois, ele conheceu a jaque, e então, passaram a caminhar juntos… única namorada, se tornou esposa, parceira, amiga… na construção bonita da intimidade que só casais que duram experimentam…
8 anos atrás, tiveram a rafa. e no meio do caminho, decidiram que queriam a segunda filha. num ato de altruísmo, adotaram a vivi, já mais velha, que passou a fazer parte da família gigliotti.
coquinho vivia pelas suas três meninas. levava a sério o cuidado com o corpo, se exercitava diariamente, não bebia, não fumava, levava sua alegria através do dedilhar dos instrumentos que tanto amava tocar.
numa de suas publicações do instagram, compartilhou:
“A música tem qualidades metafísicas que permitem a sensação de paz absoluta, a relação entre a vida e a morte, a possibilidade de ir além do material para entender a essência humana, não deixe que a rotina diária afaste-o dela…”
estava sempre com o violão, a guitarra, o cavaquinho ou ukulelê trazendo pra quem estava aqui fora a sensação de paz absoluta, como descrito aí em cima… uma entrega bonita, como um transe; dava pra sentir que ele estava totalmente confortável enquanto tocava.
foram dias divididos em juiz de fora: uma alegria sem fim por mais uma vez poder abraçar minha família tão amada, compartilhar o “nada” e sentir o conforto de ter pessoas ali para construir novas memórias; por outro lado, uma angústia sem tamanho por pensar em tudo que estava acontecendo em atibaia.
no dia 13 de outubro, à noite, a confirmação da morte cerebral. lágrimas que não cessam, fome que não aparece, vontade de colocar o mundo no mudo e me dar o direito de questionar ao cara lá de cima sobre alguns porquês… mesmo sabendo que a resposta nunca vem.
então, por ter cuidado tão bem de seu corpo, por ter tão íntegro em vida, por se nutrir tanto de bons alimentos e arte, o corpo do dani estava intacto. por isso, ele pôde doar 8 órgãos. o coração foi para um menino de 8 anos, que teve alta. um cara tão, tão, tão espetacular que seguirá vivendo…
a cidade parou para seu velório, para prestar as últimas homenagens, orar por você e pela família… pais, irmão, esposa e filhas… levar um pouco de consolo nesta situação inconsolável. você é um herói, dani!
escolhi este texto pra ilustrar o dia de hoje pra gente não esquecer de celebrar os períodos mais calmos da vida, os “entres”, a pausa que muitas vezes passa despercida no meio do caos e que, na verdade, é bênção. os dias que se seguem depois dos rituais da morte são sempre os mais difíceis… sigovibrando amor, luz, proteção, fé, saúde, força pra vocês.
recebam nosso carinho: dani, jaque, vivi e rafa… todo nosso carinho!

vamos viver bem, da melhor maneira que pudermos…
o grande mistério está agindo a todo momento, a gente nunca sabe quando será nosso último suspiro terreno, quando teremos que lidar com a dor quase insuportável da saudade…
meu beijo,
l.

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