17 de dezembro de 2023.
Ouvindo “Comfort Chain – Instupendo”
Ontem foi dia de casa cheia. Reunião de toda família para celebrarmos antecipadamente o Natal, e agradecer por mais um ano estarmos todos reunidos, sem sentir a dor da falta de alguém.
Os primos brincavam felizes, ora de pega-pega, ora de queimada com bexiga cheia de água pra conseguir driblar o calor intenso que tem feito nos dias atuais.
A rádio Nova Brasil FM embalou nosso dia. Na churrasqueira, meu pai feliz – apesar da grande dor no ciático – em mais uma vez estar com saúde para preparar o churrasco para todos nós.
Minha mãe perfumou a casa com a vinagrete cortada em tamanhos bem miudinhos, e a farofa com bacon que pra mim, é a melhor do mundo. Arroz branco soltinho e outras saladas compuseram o banquete do nosso dia.
De repente, começou a tocar “Coral de Anjos” e dancei com meu pai. Meus olhos encheram de lágrimas porque revisitei essa mesma cena de 25 anos atrás, nós dois dançando juntos essa música do Grupo Sensação. Que bom ter nova oportunidade de fazer isso hoje, mas inevitavelmente penso “quando será a última vez?”





Essa sensação vive em mim desde que perdi meus Sogros em 2021, quando ao revisitar fotos e momentos, indaguei sobre as “últimas vezes”. É maior que eu.
Encerrada a música, a próxima foi “Madalena” – música dos meus pais. Era hora de eles assumirem o papel dos dançarinos da vez.
Boa parte da tarde já tinha passado, e comecei a recolher as coisas para lavar a louça. Enquanto minhas mãos ensaboadas faziam o trabalho, seguia em conexão com o divino, agradecendo e relembrando da rotina que vivi com eles e meus irmãos, quando éramos apenas a “família original”.
Cresci em um lar saudável, não me faltava afeto e amor e acho que por isso tive um pouco de medo da vida, porque o mundo é um lugar hostil – apesar de igualmente mágico -, mas não foi fácil pra mim, exatamente por me sentir tão protegida com eles. De repente, era eu e eu.
Ao terminar de lavar a louça, comecei a secá-las e ao abrir as gavetas percebi que já não sabia mais onde guardar as coisas, tudo foi trocando de lugar ao longo do tempo. E este lugar de tanta intimidade com a casa, depois de tantos anos, senti que não tinha mais.
Fiquei pensando neste sentimento, na finitude imperceptível de todas as coisas.
Fui fotografar o céu para eternizar este momento.
Faço isso todos os dias, a casa pôr-do-sol; meu jeito de lidar com a impermanência, com o fim de dias bons e de dias ruins.
Estivemos juntos, mais uma vez.
Seja em celebração, ou em um dia extraordinariamente comum.
Apesar de cada um ser íntimo de sua própria casa agora – e não mais da mesma – seguimos juntos, pelos fios sutis do amor e do afeto que nunca nos faltaram. E é isso que mais importa.





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