
Ulemia. Assim como seu nome, meu primeiro encontro com minha sogra também foi um tanto peculiar.
A prova de fogo aconteceu durante um almoço despretensioso em um sábado de sol, onde o ingrediente principal era ele: o bucho.
Sim, você leu certo!
O estômago bovino foi o protagonista da tarde e estava prestes a selar o destino da minha relação com a matriarca da família.
O desconforto tomou conta. As mãos suavam. Foi um gatilho forte pra mim que, no auge dos 21 anos, ainda carregava no corpo marcas da “menina boazinha que não reclama de nada para não fazer ninguém sofrer”.
Como falaria algo que poderia causar um grande constrangimento a todos, especialmente naquele momento de “avaliação” da futura nora?
Permaneci calada, pensando em como sairia ilesa daquela situação. Embora tentasse disfarçar meu nervosismo com um sorriso educado, foi difícil.
O aroma do bucho invadia a cozinha, misturando-se com o perfume dos arranjos de flores que enfeitavam a mesa. Pedi que minha sogra, com mãos habilidosas e olhos atentos, servisse apenas o caldinho e o feijão branco em cima do arroz para mim.
- Por quê? Não gosta de bucho? Só um pouquinho, experimenta sim, ou vai fazer esta desfeita na minha casa?
- Tá bem, só um pedacinho pequeno para experimentar.
A primeira — e única — garfada foi como uma viagem ao desconhecido. A textura peculiar e o sabor marcante desafiavam meu paladar, mas eu estava determinada a conquistar o coração da minha sogra, mesmo que fosse pelo estômago.
Ao final do almoço, Ulemia me perguntou com sorriso desafiador: “Gostou do bucho, minha querida?”
Eu, com a coragem de quem enfrenta um vendaval, respondi: “É surpreendente; nunca havia experimentado algo tão diferente. Parabéns, está delicioso” — e fui levantando da mesa para lavar a louça antes de ouvir um “então coma mais!”.
Passei pela prova de fogo. Apesar deste excêntrico encontro gastronômico e de ela confundir meu nome algumas vezes com o da ex-namorada do meu marido, os anos transformaram nossa relação em muita cumplicidade.
Ela percebeu que eu não queria roubar o lugar dela.
Ao longo do tempo, enquanto compartilhamos histórias e risadas, o bucho deixou de ser apenas um prato exótico para se tornar uma lembrança memorável da nossa jornada rumo à compreensão e ao respeito mútuo.
E eu, finalmente, aprendi a dizer “NÃO, obrigada!”
Coisas que só o tempo e maturidade ensinam.

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