Todo mundo camacaca!

Não! Eu não estou com TPM! – gritou minha amiga depois de xingar o terceiro motorista em menos de cinco minutos. – Eu tô camacaca!

Ela já pegou a maior intimidade com a expressão “tô com a macaca”. De onde será que vem essa expressão? Aliás, por que tantas expressões alusivas aos nossos ancestrais? Tô com a macaca; macacos me mordam; macaquinhos no sótão – conhecem essa? Sempre que alguém tinha uma preocupação boba, ou ansiedade infundada, minha avó se referia a essas sensações como “macaquinhos no sótão” . Macacos são inquietos e a imagem deles no sótão deve ser mesmo a de bagunçar, de desestabilizar a casa…

Quando a minha amiga grita que está camacaca, porém, não é só uma inquietação. É uma irritação, uma vontade de mandar tudo à merda, uma vontade de gritar “me deixem em paaaaaaaz!” E isso tem tudo a ver com TPM, mas, se ela negou, é porque não devia estar no seu período pré-menstrual. Simples assim.

E por que falei isso tudo? Aonde quero chegar? A uma conclusão que talvez cause uma certa estranheza, mas faz sentido. Prestem atenção: essa história de TPM está obsoleta! Quando o mundo era mais calmo, até os anos 70, mais ou menos, ali antes dos yuppies, do avanço galopante da tecnologia e da mulher ultra-moderna, a TPM fazia sentido. O ritmo de vida era mais tranqüilo. Não havia jornada dupla/tripla para as mulheres, exigências absurdas! Então, a tensão pré-menstrual se fazia notar. Era um ruído na personalidade de quem sofria dessa síndrome. Um acorde dissonante na música doce que as mulheres, em geral, tocavam. Mas hoje? Respondam com sinceridade: vocês conhecem, hoje em dia, alguma mulher que seja calma, tranquila o mês inteiro, e que se transforme durante um ou dois dias do ciclo menstrual numa pessoa estressada, às vezes enfurecida? E depois essa mesma mulher volta a ser tranquila, só repetindo esse padrão normal-louca-normal no mês seguinte? Eu não conheço. Hoje a tensão aparece quando os serviços públicos ou particulares não funcionam, quando o chefe enche o saco, quando o trânsito é caótico, quando a gente olha pra cara dos governantes, quando os filhos andam de skate dentro de casa porque não podem andar na rua com segurança. Enfim… Aparece o mês inteiro! E como a gente não pode ficar com TPM o mês inteiro, a gente fica camacaca!

É tão mais prático isso, e tão mais democrático, porque camacaca amplia o público alvo da TPM, atendendo às demandas de mulheres mais velhas que já entraram na menopausa, por exemplo, e, é claro, dos homens! Eles vão ser os maiores beneficiados quando o camacaca for mais aceito e instituído como um mal do novo século. Vão perceber que camacaca é unissex e que eles têm, enfim, a chance de sofrer de algo mais… mais porralouca que um simples estresse. Estresse já está tão batido e a gente administra, não é mesmo? Técnicas e mais técnicas surgem no mundo moderno com esse papo de “administrar” o estresse. Pois camacaca ninguém administra. É muito mais radical. Mais moderno. Mais a cara de pessoas antenadas. Vocês vão ver… eles vão se aproveitar disso e eu não os culpo. Sinceramente… anos e anos de álibi que temos com a TPM, é mesmo uma questão de solidariedade a gente emprestar o camacaca pra eles também.

Imaginem… os homens vão poder se exaltar numa reunião de negócios, ameaçar “sumir daqui até vocês aceitarem minha negociação!!” e depois, sem-graça, dizer: “desculpem, senhoras… senhores… mas é que hoje eu estou camacaca.” A gente vai ver homens de bem sendo absolvidos num tribunal depois de terem puxado o cabelo de alguém no trânsito ou arranhado a lataria de uma “idiota, imbecil, perua!” que roubou a vaga deles bem em frente ao escritório. Decisão unânime do júri baseada em fatos incontestáveis: “o réu estava passando por um período camacaca…”. E caso encerrado.

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