(Escutando Enya)
Eu já tentei começar a escrever várias vezes… o título continuava firme e forte nos ‘rascunhos’.
Tanta coisa aconteceu nestas últimas semanas… tantos sentimentos misturados, tanta chance de me conhecer mais um pouquinho…
Há duas semanas foram minhas férias e do Lu.
No dia de embarcarmos, tivemos a notícia de que o pai da Ju, minha sócia no Yázigi, havia falecido.
Foi um choque muito grande!! A sensação que eu tinha era de que não me era permitido estar lá, curtindo minhas férias, sendo que ela estava aqui segurando a maior barra.
De todo modo, eu e Lu aproveitamos muito. Conhecemos lugares incríveis…
Foi uma viagem diferente de todas as outras que já fizemos juntos. Acho que nossa falta de tempo para nós dois, acabou criando ainda mais intimidade entre nós. Teve mais olhos nos olhos, teve mais diálogo, teve conversas duras também, mas sempre tão necessárias para conseguirmos acertar diferenças que incomodam e seguir adiante sem traumas.
Foi também um tempo muito bom para pensar no futuro, rever sonhos, dar mais um pequeno passo… também aproveitei o ócio criativo para pensar em estratégias para a escola.
Não tem jeito. A cabeça fica a mil… o difícil é chegar na hora do vamos ver e achar tempo para colocar tudo em prática. Se não der tudo de uma vez, tudo bem. Tenho certeza que um dia todas as ideias sairão do papel e se transformarão em uma realidade linda.
Voltando a Bragança, mãos à obra. De cara conseguimos uma parceria com a Panasonic, que agora está com um escritório em Extrema e precisa de funcionários qualificados.
Esse tipo de vitória diária que faz o trabalho valer a pena. O trabalho feito com amor, com dedicação.
Ter um negócio próprio não é fácil. Sociedade não é fácil. Mas é bem verdade a comparação que fazem com o casamento: é preciso saber relevar muitas coisas…
Sinto-me casada duas vezes. Ai, e como é difícil.
Achei um fato muito curioso… aconteceu ontem… Mimas, minha grande amiga e fotógrafa oficial, e eu estávamos conversando no messenger quando comecei a contar algumas fases difíceis que passei, algumas angústias pessoais, algumas coisas que só conseguimos nos abrir para quem consegue enxergar nossa alma, para quem não nos critica, apenas nos escuta e mesmo longe, temos a sensação de estarmos sendo abraçadas… pois bem, ao terminar de contar tudo, ela me disse: “nossa Li, você não transparece isso… como assim? Sempre te vejo escrevendo coisas tão bonitas…”
Por um instante isso me assustou. Sou muito sincera com meus sentimentos… sofro e me vejo perdida com a mesma intensidade que eu amo. E me dou o direito a isso. E sempre achei que isso ficasse ‘escrachado’ no modo em que escrevo.
Bem, tenho uma revelação aos que acham que levo uma vida perfeita.
Em primeiro lugar, é muito relativa a ideia de perfeição, não é?
Se levamos em conta o que diz no dicionário: Perfeição (do latim perfectione) caracteriza um ser ideal que reúne todas as qualidades e não tem nenhum defeito. Designa uma circunstância que não possa ser melhorada ainda mais e mais.
Sobre isso, realmente, estou longer de ter. Que graça teria a vida se não errássemos, se não decepcionássemos ou se não fôssemos decepcionados… se tudo saísse como o esperado…
Como conseguiríamos nos aprofundar no perdão? Como valorizaríamos o que é bom?
Por outro lado, sendo bem piegas, podemos adquirir e desfrutar de pequenas perfeições diárias: temos todos os sentidos, acordamos todos os dias com a chance de fazermos alguém feliz de algum modo, temos um trabalho que nos é gratificante, por mais que existam as tais dificuldades…
Já sobre a perfeição no lado afetivo… eu devo confessar que me surpreendi com o jeito de ser do Lu. Talvez porque pela primeira vez eu consegui ter – e dar – credibilidade a um relacionamento de forma madura e não possessiva, egoísta e ciumenta como a que uma vez havia experimentado. Até nisso Deus foi perfeito: como conseguiria enxergar a dádiva desde presente não tendo passado pela dor? Acontece que, como todo relacionamento, não se vive só de flores. A fase da paixão passou, a fase do namoro passou, a fase do ‘fogo ardendo’ já passou. O problema é que algumas pessoas não consideram e não desejam a maturidade de um relacionamento. Não aguentam os perrengues. Não conseguem lidar com as diferenças que às vezes se fazem gritantes. Alguns perdem o respeito com o outro. Ou vivem uma vida de aparências. Acho que cada um tem sua particularidade, cada um sabe o que é importante no relacionamento.
Hoje, pra mim, sexo não é o mais importante. (Eu disse não é o MAIS, o que não quer dizer que não seja). E sim, um diálogo saudável. O dormir abraçados. O olhar que diz mais que mil palavras. A intimidade. Eu e o Lu passamos por problemas cotidianos: falta de tempo para nós, falta de tempo para os amigos, estresse no trabalho (e no nosso caso, redobrado porque só falamos de trabalho), grana, sonhos que não cabem no bolso, a distância e o tanto de energia que o trabalho dele suga. A minha neurose com a arrumação da casa que às vezes o irrita. A irritação que eu sinto quando ele reclama desta minha neurose, haha. Mas acima de todos os problemas do ‘rodo cotidiano’, nossa decisão foi a de sempre discutirmos o quanto for necessário, chegar a uma conclusão razoável e irmos dormir sempre juntos, sem rancor um do outro. Isso tem dado certo desde o nosso início. FALAR também é uma coisa que aprendi muito com ele. Somos infinitamente diferentes neste quesito. Prefiro verbalizar com a escrita, sempre. Já expliquei o porquê: para escrever, é necessário pensar. Ao falar, muitas vezes, não pensamos. No final, “entre mortos e feridos sempre salvam-se todos”.
Não, eu não quero uma vida perfeita. Quero viver de imperfeições. De erros e acertos. De palavras doces. Quero viver do que eu acredito: um amor sem fim, uma vida simples mas recheada de muitos sorrisos.
“O amor à primeira vista é supervalorizado. Bom mesmo é o amor que resiste à milionésima vista.”
♥
E sim, quero resistir a milionésima vista!
Meu beijo,
L.