Atibaia, 27 de janeiro de 2015.
Ouvindo Norah Jones, “Good Morning”
Dia desses, estava no aniversário de uma amiga e conversava com um amigo sobre as fases de desenvolvimento de nossos filhos. O dele, que já fez um ano, começou a fazer birras e testar limites dos pais. Benício ainda tem 6 meses, mas gosto de conversar e observar filhos mais velhos para saber o que me espera e, assim, me preparar psicologicamente.
Ainda sobre o mesmo assunto, ele me dizia que estava lendo o livro “Crianças Francesas Não Fazem Manha”. Eu, inclusive, também tenho este livro, mas confesso que não li ainda. Depois de devorar “A Encantadora de Bebês”, descobri que a verdade é que não existem regras porque cada filho é um. A observação diária e tentativa de comunicação com meu filho em um processo quase simbiótico é o que me traz paz e tranquilidade. Como disse, cada um é um.
Já escrevi tempos atrás sobre a minha decisão de abrir mão de minha carreira, decisão esta acordada com o meu marido depois de discutirmos os benefícios do afeto materno para as crianças em seus primeiros dois anos (especialmente) e também por não ter encontrado um berçário que atendesse os padrões mínimos esperados.
Tive sorte. Além dos meus quatro meses de licença-maternidade, tive ainda mais dois meses de licença não remunerada. Nem todas as empresas são tão amigáveis a acordos como este. Ainda assim, se eu voltasse a trabalhar, Benício não teria nem um semestre completo e percebi que não estaria em paz em terceirizar os momentos únicos de sua vida como o nascimento do primeiro dente, a primeira papinha, a primeira palavra, o início do ‘engatinhar’. Mas, repito, só consegui isso porque meu marido consegue segurar as pontas nas contas de casa. Infelizmente não é sempre que isso acontece.
Então, como neste dia citamos crianças francesas em nossa conversa, fui procurar como funciona a licença-maternidade na França. Por lei, funciona como aqui: 16 semanas com salários pagos. A GRANDE diferença é que existem mais duas opções vantajosas. Mães ou PAIS podem optar pelo congé parental. Esta licença pode ser utilizada até os 3 anos da criança e, ao optar por isso, não se perde o emprego. Ao término, há o direito de retorno ao trabalho com o mesmo cargo e valor de seu último salário recebido. Detalhe: no período de vigência, apesar de não estar recebendo o salário, existe uma ajuda do governo.
Existe, ainda, a possibilidade das mães optarem por trabalho em tempo parcial: às quartas-feiras, dia em que as crianças não tem aula, elas também ficam em casa se dedicando aos filhos. Trabalham apenas segundas, terças, quintas e sextas-feiras.
Um verdadeiro SONHO para aquelas que gostam/precisam trabalhar, mas que prezam pelo equilíbrio de estar envolvida com o crescimento dos pequenos.
Volto para nossa realidade. Além de um trabalho meio-período ser quase impossível, muitos são obrigados a colocar seus filhos em berçários que ‘cabem no orçamento’. Só que nestes locais, a grande maioria dos funcionários não possuem ensino superior, às vezes nem um curso de berçarista. Ouvi em uma das escolas que visitei que ‘não é obrigatório’.
“Prôs” que não sorriram quando fui conhecer o espaço onde ficaria minha maior preciosidade.
Locais sem os itens de segurança exigidos.
Pequenas salas com 10 a 12 crianças para uma assistente, sentadas o dia todo em bebês-conforto, sem a sala especial com berço individual para o descanso de cada um.
Tudo que inicio na vida, inicio também estudos. Apesar de contar com a intuição materna, estudei sobre principais doenças da infância, observação de sintomas, como ajudar no desenvolvimento de cada mês, o que esperar do meu filho nos primeiros anos de vida. Perto de voltar da licença, estudei o mínimo esperado que precisa ser observado ao escolher a creche do meu filho. As pessoas não buscam informações e, sem ter referência, acham que o ‘custo/benefício’ é bom.
Ao mesmo tempo, para o empreendedor que precisa fazer seu estabelecimento valer a pena, o que importa é sempre aumentar o número de matriculados e – se possível – possuir mão-de-obra a baixo custo.
E por aí vai…
A minha conclusão é: se mães tivessem o respaldo do governo de estar com seu filho pelo menos até o primeiro ano de idade, ela teria maior base emocional e, consequentemente, passaria uma melhor base emocional para seu filho. Ele é ou não é o futuro?
Mas ainda estamos longe de viver em uma sociedade que preze isso.
É um desequilíbrio generalizado. As pessoas não tem tempo de pensar em suas emoções porque precisam cumprir metas e prazos em suas grandes empresas. E ai daqueles funcionários que saem no horário pré estabelecido quando foi contratado: ele vira um “folgado”.
É um ciclo que não acaba.
Não sei onde começa e nem onde termina.
Só mesmo com criatividade e muito empreendedorismo para estas ‘mães-porreta’ conseguirem estar bem emocionalmente perto dos seus pitocos e, assim, conseguirem produzir com criatividade. Embora o cansaço seja absurdo, a exaustão seja seu sobrenome, sua consciência está tranquila: ela está fazendo a diferença no mundo, começando pelo seu meio.
Que Deus abençoe a todas as mães!
E que cada uma ache o seu jeitinho especial de dedicar tempo de qualidade para criar uma memória afetiva positiva na vida de seus filhos.
Meu beijo,
L.