Altos e baixos da vida.

São Paulo, 12 de Abril de 2015. 
Ouvindo “Sei Lá” – Tom Jobim
Esses dias li em algum lugar que não me recordo: “Pensar enlouquece. Pense nisso.” 
Tem dias que fico simplesmente esgotada de tanto pensar. Essa coisa de se autoconhecer, de ter que se adaptar a roda gigante da vida, de fingir que aceitamos certas situações só para doer menos, isso esgota. Esta noite sonhei com momentos da minha “antiga” vida, mais especificamente, na época em que conheci o Luiz. Como foi incrível aquela fase de frenesi, de estar com os amigos curtindo momentos de descontração e alegria, daquela paixão avassaladora que tomava conta de mim, do quanto existia energia para canalizar nas coisas que faziam todo sentido pra mim até então. Foi a primeira vez na vida que me senti livre, feliz, entendendo que quem chegasse em minha vida teria de vir para somar, senão não teria espaço. Estava cansada de migalhas e aprendi a duras penas o quanto era preciso aprender a me valorizar. 
O tempo foi passando, alguns amigos se afastando… hoje, 8 anos depois desta fase vou entendendo mais como o afunilamento natural acontece, embora seja difícil, difícil mesmo de aceitar. 
Durante seis anos do meu relacionamento com o Lu, ele trabalhava em redação e tinha horários bizarros, que não nos permitia estarmos juntos sempre que queríamos, muito menos ter a vida social que pessoas de nossa idade chamam de ‘normal’. Foi uma grande dificuldade para nós… a parte boa é que aprendemos com isso a valorizar cada segundo do tempo que estávamos juntos.Isso para nós se transformou em uma bênção, mas hoje que temos o Benício, é nosso maior desafio. 
Quando engravidei, tomei um grande, grande susto! Estava tomando remédio regularmente e tudo que eu não planejava era engravidar, porque estava em um grande impasse com o Lu sobre permanecer em Atibaia ou mudar para São Paulo. Ter que tomar esta decisão estava nos transtornando psicologicamente, nos afastando bastante. O cansaço dele em ir e vir e a falta de tempo para prazeres da vida se tornava enlouquecedor.
Aí vem a vida e começa a rir na sua cara: “não sabe ainda que nada é controlável”?

Quando eu ia imaginar que dois risquinhos vermelhos em um teste de gravidez fosse virar minha vida de cabeça pra baixo de um jeito que nunca nenhuma outra coisa faria/fará? 
Pois bem. Nos adaptamos a gravidez, entramos em outra energia… nossa, a família está crescendo! Uma mistura louca de medo com felicidade. É realmente uma sensação única.

Aí, começaram as repetidas gracinhas da vida em me fazer parar de vez de planejar qualquer coisa. 

Pra mim, que sempre fui fã de listas e de dar um ‘check’ em tudo que consegui realizar para meu próprio ego pessoal, tem sido um PUTA e DESGASTANTE desafio. 
Começou com minha licença maternidade antecipada. O descolamento da placenta e a pressão alta me deixaram em repouso absoluto por 43 dias. Fui obrigada a deixar o trabalho.
Não foi possível ter um parto normal.
Não consegui entrar em trabalho de parto.
Meu filho nasceu e foi para UTI.
Não consegui amamentar. 
Tinha tudo planejado para voltar a trabalhar. Minha mãe ficaria com meu filho, já tinha negociado trabalhar meio período, tudo parecia perfeito e eu finalmente conseguiria conciliar o trabalho que eu mais amava com a minha missão mais difícil: educar Benício. Mas aí, a fofa da vida resolveu dar de presente pra minha mãe hérnias de disco. E a mim, a culpa por estar pedindo que ela ficasse com ele por um período. Meus antigos traumas me assombravam: “ela sempre me disse que não cuidaria mais de nenhum neto. Já bastava o Dudu.” E ainda: “Não quis ter filho? Então assuma! O filho é seu!” Pois é… no meu sonho mais lindo, o cenário perfeito incluiria avós ajudando na criação dele e minhas poucas horas diárias voltadas para algo que me trouxesse problemas intelectuais para resolver que não cólicas e rotina massante de casa. 
Pois então, não consegui voltar a trabalhar. 
Tive que voltar para SP. Algumas coisas me fizeram tomar essa atitude: minha mãe me dizia que ela estava me “estragando” levando almoço pra mim todos os dias ou indo lá a tarde para me ajudar com Benício, mesmo tendo alguns dias que ela dizia que isso pra ela era como uma terapia para sair de casa e conversar, bater papo ou ir até o Guerreiro comprar pipoca e tomar café comigo. “Nossa, o comércio perto da sua casa é muito bom, dá pra fazer tudo a pé”.

A ambiguidade me deixava maluca. Outro trauma emocional fortíssimo era jamais decepcionar minha mãe. Minhas decisões sempre dependiam da aprovação dela. É algo tão simbiótico que às vezes não me fazia bem. Isso descobri na terapia, tempos mais tarde.  
Existe a necessidade do corte do cordão umbilical, por mais que me doa lá no fundo! 

Além do mais, sentia que meu casamento estava por um fio. Quando passamos a não sonhar os mesmos sonhos, as coisas vão ficando muito difíceis. E a desconexão é inevitável se não tomarmos cuidado, enxergarmos e ambos quererem mudar algumas atitudes. 
Não consigo tempo de estudar.
Finjo ser ‘autodidata’ e me ‘gabo’ por ter aprendido a tirar sobrancelha, fazer a unha, e pintar os cabelos, mas a verdade é que eu queria mesmo era passar horas no salão me “emperequetando”, sem ter que ficar olhando no celular ou ligar e se certificar o tempo todo que seu filho está bem. 
Cara, é TÃO desgastante ter que se reconstruir o tempo todo. Ter que vigiar os pensamentos, estar bem emocionalmente para que o filho não sinta e o marido não caia junto. É tão difícil ter que tomar decisões o tempo inteiro e não ter liberdade para sair de casa a hora que quiser ou para tomar um porre tranquilamente sabendo que antigamente as consequências seriam apenas a ressaca do dia seguinte e a ‘morgação’ total… e agora, existe um ser 100% dependente de você que te exige atenção o tempo inteiro e que você sabe que está aprendendo através dos seus bons exemplos. 
Eu poderia escolher entre voltar a trabalhar e deixar meu filho 9 horas na creche. Tantas fazem isso sem culpa, não é mesmo? Mas como é que fica quando nossa prioridade é participar dos primeiros grandes acontecimentos da vida destes pequenos seres de luz, que só passarão por este processo uma vez na vida? 
Eu poderia deixá-lo assistindo TV o dia todo e enchê-los de brinquedos, mas como é que fica a ideia central de que eu ESCOLHI não voltar a trabalhar para ESTAR com ele e não simplesmente tê-lo por perto? 
Ao mesmo tempo, cara, que saudade que me dá poder decidir entre ver amigos, sair a noite, ver um filme, ficar em silêncio ou ler um livro. Preparar um jantar especial ou me paparicar para mim mesma ou para meu marido, já que “sou dona do meu próprio nariz?”. 
Que desespero me dá quando quero um momento só meu e do meu marido e nem isso consigo planejar.
Que esgotamento que dá quando Benício quer minha atenção durante todo, todo o tempo e eu não consigo sequer comer ou tomar um banho em paz? Mas ai ele dorme, e eu sinto saudade. 
CARA, o que fazer com essa ambiguidade que toma conta? O que fazer com tanta vontade de fazer tantas coisas, cursos, melhorias e não encontrar tempo e nem disposição para isso? Como colocar em prática tudo que já estamos cansados de saber que é um case de sucesso mas que nos dias de hoje parecem simplesmente ser inalcançáveis?
Ignorância é felicidade. 
Queria não pensar… como é que a gente faz? 
Vida, diz aí, o que você vê no meu destino? 
Quando a desconstrução de ilusões termina para aceitarmos tudo que de fato a vida nos mostra, nua e cruamente? Diz aí, vai! 🙂 
Vida que vai seguindo. 
Dias de paz, dias de caos. 
Não é assim tudo na vida? 
Que bom que sou normal!

A maior e mais difícil lição a ser aprendida é esta: seja flexível e aceite o que vier de todo coração. Adapte-se e se sinta feliz com as escolhas que fez, afinal elas foram as SUAS escolhas.

Que Deus esteja sempre no comando, nos trazendo de volta ao eixo e nos equilibrando quando a coisa vai ficando feia. 

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