São Paulo, 17 de junho de 2015.
Ouvindo “Quase Sem Querer” – versão Maria Gadu
Andei longe daqui curtindo outro hobby favorito: ficar com meus meninos. Esperei por essas férias como uma criança esperando a chegada da noite de Natal, tamanha ansiedade e felicidade que invadia meu coração. Foram três semanas de interação, dia a dia, 24 horas juntinho.
Desde que Benício nasceu, nunca havíamos passado tanto tempo juntos, nós três. Sem roteiro pré programado, fomos vivendo um dia de cada vez, conhecendo novos lugares, tomando novos ares, nos restabelecendo como casal, como família.
Tenho muita sorte, devo confessar. A duras penas, meu marido sempre foi o que exaustivamente tentou me ensinar – até que eu aprendesse – que a coisa mais importante dentro de uma relação é o diálogo. Foi ele quem me ensinou, também, que não temos que ter preguiça de buscar a felicidade, ainda que essa felicidade implique em mudanças dolorosas, mas necessárias para um bem maior.
Durante este período de férias, sofremos por conta das dores emocionais que invadiam a vida de amigos próximos e, como nada é por acaso, estávamos prontos e abertos para novamente dialogar sobre os desafios enfrentados pelas pessoas a nossa volta e, assim, tentar aprender um pouco com isso também.
Tivemos tempo de nos estabilizar, de definirmos nossas metas para nossas vidas individuais, como casal e como família e também de olharmos juntos para dentro de nossa relação, através de um diálogo aberto sobre dores e delícias de nosso relacionamento, especialmente no último ano com a chegada de Benício.
Nunca me disseram o quanto um filho mudava nossa vida de forma efetiva. Diziam sim, que teria cansaço, noites mal dormidas e transformações, mas nunca nos disseram o quanto a chegada de um filho, mesmo que planejado e amado, muda completamente a rotina de um casamento.
Esgotamento físico e mental, inexistência de espontaneidade já que para qualquer coisa a fazer a dois, é necessário que o filho esteja dormindo, tranquilo, sem que demande atenção e olhos em tempo integral. Nunca disseram que os conflitos sobre educação surgiriam porque afinal de contas, são duas pessoas com educações totalmente opostas e experiências de vida diferentes que até então representavam uma bifurcação e que, no dia a dia, tem que encontrar pontos comuns ou até mesmo, tentativas em mudar o que nos traumatizou em nossas próprias infâncias.
A terapia sempre foi fundamental para enxergarmos este nosso lado emocional tão importante e cheio de respostas incríveis e certas para tantas questões vividas na vida adulta.
Transformar-nos em pai e mãe nos fez repensar a vida e as prioridades. Estamos mais egoístas no sentido de trazer para dentro de nosso convívio pessoas que entendem a importância de se viver e tentar a busca por um equilíbrio emocional. É impressionante como as emoções do Benício são as minhas próprias escrachadas… como ele absorve toda a minha energia e como me mostra realmente onde estão minhas maiores sombras e lugares onde nem sempre gostei de acessar, por comodidade, por medo.
A conclusão que chegamos é que sempre podemos mudar aquilo que nos incomoda se isso realmente for nossa vontade. Se tivermos determinação. Se quisermos lutar por uma vida mais feliz.
Nossas vidas hoje estão inteiramente ligadas para proporcionar ao Benício o melhor que temos em nós. É ele quem decide o tempo das coisas; foi ele quem me ensinou que nada é controlável, e que viver sem tanto planejamento e fixação por ‘checks’ nos compromissos da agenda nos mostra que podemos viver com mais flexibilidade.
Tem dias que eu me esgoto, que sinto saudade da vida que eu levava. Acho legítimo, já que o que mais gostava era escolher o que fazer com TODO o tempo disponível que eu tinha. Por outro lado, a gente aprende a ser polvo, a agradecer pela uma hora e meia em que ele dorme e que conseguimos dar conta da casa, do corpo, da alma e do espírito e assim, voltar ao eixo antes que ele acorde.
Aprendi a fazer tudo com a mão esquerda enquanto o carrego no colo.
Aprendi a prestar ainda mais atenção em mim e a querer mais da vida.
Aprendi a não ser mais preguiçosa.
Aprendi que, mesmo sendo mãe, ainda posso conseguir ter um tempo exclusivo para mim, mesmo que não seja no momento desejado. E isso não significa que será ruim.
Aprendi que a falta de intimidade por tempos maiores pode ter uma sensação minimizada quando, sem motivo, troco beijos mais demorados com meu marido. Ou dou um abraço apertado. Ou olho nos olhos de forma profunda, sem dizer nada.
Tudo é uma constante transformação.
Uma vez li num livro de Gary Chapman algo que me fez pensar muito: “Não existem pessoas irreconciliáveis; existem pessoas que se recusam a se reconciliar”.
Crises e reconciliações fazem parte do amadurecimento de um casal. É um sinal claro de que existem duas pessoas lutando por esta relação, por este amor, pelo compromisso assumido.
E por tantas crises e reconciliações eu agradeço. Agradeço a Deus por me conceder a oportunidade de troca e evolução ao lado de duas pessoas que me mostram diariamente o que vale a pena nesta vida e pelo que é imprescindível lutar.
Não existe nada mais importante que nossa família. Nada. 🙂
Meu beijo,
L.
Oi Li! Adoro os seus textos! Vc sabe ! Amiga, você escutou, sim, diversas vezes o quanto a chegada de um filho mudaria efetivamente a vida do casal, escutou sim! O que acontecia… era que você não acreditava! A gente já conversou sobre isso várias vezes!
Você se lembra que um dia você estava reclamando no face … acho que era sobre estar sozinha e não ter nada para fazer e eu disse: Lillian, não reclame e a agradeça o seu tempo livre pois eu para ficar um pouco sozinha, invento que estou com dor de barriga e vou meditar no banheiro (rs) Lembra disso?
As pessoas ao nosso redor sempre nos aconselham… mas as palavras não entram nos nossos ouvidos com a mesma intensidade… porque não queremos acreditar em verdades feitas! E, cada um tem sua própria experiência!
Fico muito feliz pelas suas férias, vocês merecem isso e muito mais!
Ahh, lembra-se o que você me disse uma vez: tão flexível que parece uma mola! Amiga, meu primeiro veio na época de estudante, morando há quilômetros de distância da minha família, desempregada etc… E ele chorava e chorava e chorava e não dormia… eu era o zumbi na terra dos vivos.
Dizem que Deus dá a cruz que conseguimos carregar.
Amo vcs!
É só o começo! Suas vidas, como pais, só começou a mudar agora… muita coisa nova virá, mas muita mesmo!
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Sim amiga, acho que conversamos muito mesmo durante esta fase de caos e avessos, mas penso que tenha sido sobre algo individual.
Por mais que um filho seja algo maravilhoso, exige muito mais que sermos 'mães'. Nossos papeis se tornam muito mais intensos, nos tornamos muito mais exigidas emocionalmente porque de fato sentimos que somos o pilar principais do equilíbrio e isso muitas vezes é totalmente desgastante.
Por outro lado, é uma descoberta total.
Um casamento para se manter são precisa mesmo de muita, muita, MUITA compreensão mútua, porque o desafio é grande.
Espero que as coisas novas que virão sejam ótimas! 🙂
Muitos muitos beijos!
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