Atibaia, 11 de outubro de 2016.
Ouvindo “Catedral” – versão Zélia Duncan
Esta música nunca teve tanto sentido para enfatizar o que venho sentindo.
Há algum tempo, minha terapeuta me deu como sugestão “extra” trabalhar a arte de observar o que quer que fosse. Observar apenas, sem julgar, sem verbalizar. Tem sido um exercício bonito. Difícil, mas bonito.
Difícil porque observar somente é muito, muito complicado. Antes que a gente perceba, lá estão as palavrinhas dando o ar da graça e a nossa ‘opiniãozinha’ já está formada. Mas cada vez que isso acontecia, tentava zerar tudo e recomeçava. Percebi o quanto julgar é ato involuntário; o quanto somos egoístas e o quanto não nos interessamos verdadeiramente para ouvir o outro, para entender o que levou àquela determinada situação, ou para resolver tantos problemas de comunicação existentes.
Encontrar alguém que se interesse verdadeiramente em ouvir nossa história sem questionamentos é praticamente impossível.
Neste período, observei a injustiça. Observei a implicância. Observei a impotência. Observei o empoderamento. Observei a criatividade. Observei a alegria. Observei o amor. Observei o desespero. Observei a paciência. Observei a tolerância – e também a intolerância. Observei o poder da oração. Observei o sorriso. Observei a leveza. Observei o abraço. Observei a fúria. Observei o choro. Observei o silêncio. Observei o grito. Observei a gentileza. Observei o trabalho.
Tendo observado e experienciado tudo isso, percebi o quanto o entorno é quase sempre responsável por tantos de nossos atos e reações. E o quanto nos acostumamos com o comportamento neurótico que nos rodeia. E o quanto tentar sair dessa neurose pode nos custar muito, o quanto pode nos isolar, até que tudo esteja transformado. Por dentro especialmente.
Para observar, precisei me afastar. Neste período, fiquei apaixonada – ainda mais – pelo céu. Para cada novo dia, um céu diferente. Com nuances de cores diferentes. Trazendo sensações diferentes, assim como nossos humores: alegria, calor, melancolia, nostalgia. Às vezes, durante o mesmo dia, céus tão diferentes, ora com tudo azul, ora recheado de nuvens, ora absolutamente cinza e trazendo ventania.
E para que tudo se dissipe e fique totalmente claro novamente é preciso nada mais que a paciência. Como tudo na vida. Olhar o céu foi minha grande descoberta deste exercício, já que apenas observar os seres humanos – especialmente os adultos – se tornou pesado e chato demais.
Entre alegrias e frustrações, valeu a experiência e a nova paixão de registros celestiais.
É a calma na alma. A atenção. A contemplação. O novo retorno ao meu eixo, especialmente ao entardecer, quando as cores vem me mostrar que finda mais um dia e que logo haverá nova chance, o recomeço. Um dia de cada vez.
“O deserto
Que atravessei
Ninguém me viu passar
Estranha e só
Nem pude ver
Que o céu é maior
Tentei dizer mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar
(…)
Solidão
Quem pode evitar
Te encontro enfim
Meu coração é secular
Sonha e deságua
Dentro de mim
Amanhã devagar
Me diz
Como voltar
Se eu disser
Que foi por amor
Não vou mentir pra mim
Se eu disser
Deixa pra depois
Não foi sempre assim
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mais perto de algum lugar…”
Meu beijo,
L.