O dia que eu não quis ser mãe – Texto de 3/11/2016

Atibaia, 3 de novembro de 2016.

Ouvindo India Arie – Beautiful.

Já acordou algum dia com vontade de não ser mãe? Assim, por alguns momentos? Algumas horas? Por um dia inteiro? Ontem, aconteceu comigo.

Deve ter sido porque durante todos os outros dias da semana eu vinha tentando sentar para montar alguns projetos que andam sondando meus pensamentos; como uma intuição que chega sem avisar e a gente quer mais é aproveitar a visita inesperada.

Acordamos como de costume, mas era feriado! Tomamos café todos juntos, escutando música boa e comecei a dançar. Benício me disse: “pára, mãe!”. Respondi: “que pára o que, vem aqui dançar comigo”. Ponto pra mim, transformei cara feia em sorriso!

Nunca é possível fazer uma refeição em paz quando os dois estão por perto. Depois de alimentá-los, as tentativas começam, mas logo a comida/café esfriam, e as interrupções não param. Benício que quer descer do cadeirão ou Miguel que já está irritado no carrinho. Ufa, nova tentativa. Primeira mordida no pão. “Mãe, quelo água”. Levanto e pego a água pra ele. “Pai, lolo (colo)”, lá vai o Lu pegar no colo. “Pai, chão” – tá bom, Benício, agora nós vamos comer. “Vem mãe, vem”, – Filho, espera, que eu estou comendo. “Fiz cocô. Mãeeeeee, ai mãe, bumbum, aiiiiiii.”

Sério. No auge da TPM, bem que eu tentei manter o humor da minha dança ao acordar. E olha que tinha apenas 1 hora que tínhamos levantado e meia hora que estava tentando tomar uma xícara de café, comer um pão e metade de um mamão.

Meus pensamentos não paravam… tanta coisa pra colocar no papel. Se eu pego o celular para digitar no bloco de notas, Benício chama atenção. Se eu sento no computador, ele quer ir junto no colo e fica mexendo em tooooodos os botões do teclado. Se eu pego um papel, ele quer desenhar JUSTAMENTE no papel em que estou escrevendo.

Eu penso: “Deusinho, não rola um feriado ou umas horinhas de descanso pra quem quer com boa vontade criar planos e estratégias para exatamente conseguir ficar mais tempo com os filhos e em família?”

Pensei então em ir para o refúgio materno, o abençoado BANHEIRO, mas o papai foi mais rápido desta vez.

Todo mundo chorando e eu com vontade de chorar também. Contando até o infinito para não soltar um berro. Resolvemos sair de casa.

Basta os bichinhos verem a rua que toda a chatice pára. Vamos ao parquinho. Ufa!! Um momento de tranquilidade. Enquanto Beni brincava e Mimi estava tranquilo no carrinho pensei em finalmente usar o bloco de notas  do celular a meu favor. Ah, mas imagina se o celular não tinha acabado a bateria? Murphy estava querendo brincar comigo.

Criançada começa a ficar irritada, todo mundo com fome e com sono. Volta pra casa. Dá comida para o filho número 1, que quer comer sozinho mas quer que a gente fique do lado vendo e comemorando CADA COLHER QUE DEMORA UM MINUTO CADA PARA COLOCAR NA BOCA E ENGOLIR. Papai dando comida para o filho número 2 que adora lamber o dedo quando a boca está cheia só pra fazer aqueeeeeeeeeela lambança.

Só pensava na hora da soneca deles, quando eu finalmente conseguiria sentar por alguns minutos. Depois de conseguirmos almoçar, cada um ficou com um filho em um cômodo. Luiz fez Benício dormir e dormiu junto. Miguel não parava de chorar um minuto sequer; devia estar sentindo minha energia que dizia pra ele em pensamento ‘dorme logo, dorme logo, dorme logo’. Pega no colo, põe no carrinho, balança, tira do carrinho, põe só no colchão, abre a janela, fecha a janela, dá uma fruta, dá água, mais choro, mais cansaço, mais irritação. Ufa, dormiu.

Fiz xixi, tomei um copo de água, ajeitei as brinquedos bagunçados pelo tsunami Benício e sentei. Liguei o computador. Abri o programa. Coloquei uma música. Senti a paz.

E durou exatos 2 minutos. Miguel acordou chorando.

Tempos depois acorda Benício. “Oiiiii, mamãe”. E aquela cara fofa que ele faz! Dou uns apertos nele, pego Mimi no colo, vou dar banho. Luiz me pergunta se eu consegui descansar e vocês podem imaginar qual foi o meu pensamento naquele momento, mas respondi apenas que não, porque Mimi não dormiu, educadamente.

Decidimos sair de novo. Tínhamos combinado de encontrar alguns pais e amiguinhos das crianças da escolinha para eles brincarem.

Voltamos pra casa. Crianças chorando. Birras. Benício jogando tudo. E eu com vontade de sumir.

Luiz estava no refúgio-banheiro de novo e depois de muito choro, birra e irritação eu, com toda minha maturidade, gritei: “façam o que quiserem, por hoje já deu, por hoje não quero mais ser mãe”. E deitei no colchão, EXAUSTA. Querendo chorar, querendo sumir, querendo o silêncio, querendo um porre, querendo trabalhar.

Uma hora depois, todos dormindo.

Minha energia e paciência já tinham terminado e o que estava na reserva chegava bem próximo do fim.

Mais um dia sendo apenas mãe.

“Amanhã quem sabe consigo colocar as ideias no papel e organizar a cabeça; melhor eu ir dormir.”

Noite que chega. Cama que chama. Melhor ir logo que daqui duas horas já tem um deles chamando.

Fim.

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