Atibaia, 25 de junho de 2018.
Ouvindo “Paciência” – Lenine.
Já fazia um tempo que eu reparava que meu estado exaustivo estava além do normal, mas tive compaixão por mim mesma e tratei de colocar na cabeça que seria apenas uma fase de transição por conta de tantas mudanças no trabalho – positivas!
Acontece que de duas semanas pra cá Beni estava tendo um comportamento diferente na escola, e na grande maioria das vezes, sei que isso é um sinal de desequilíbrio da minha parte. Enxergo isso como um ‘alerta’ – não como culpa. Nossa conexão sempre foi assim, especialmente com o Beni, sinto como se ele fosse a materialização do meu inconsciente.
Apesar do volume insano de trabalho, tomei a decisão de no último final de semana, desconectar para me reconectar. Saiu de cena o mundo das demandas sem fim, dando lugar ao respeito da “pausa” tão necessária aos finais de semana.
Sexta-feira, desliguei o celular às 19h. Às vezes ficamos tão no automático que nem nos damos conta do quanto estamos deixando de fazer o que amamos por conta desta nova era digital.
Percebo um mundo mais ansioso. Ansiedade de ver pessoas se mexendo incomodadas por terem que esperar 5, 10 ou 15 segundos de propaganda no Youtube. Como culpar a nova geração de serem imediatistas se eles nasceram em um século onde você encontra respostas para tudo que procura perguntando ao Google rapidamente – e agora por voz, porque é mais rápido!
Fico pensando no desafio sem fim de criar meus filhos feliz pelas novas tecnologias, que certamente chegam para transformar e revolucionar, mas que não se percam das coisas que realmente importam nesta vida, que saibam que as respostas às principais perguntas da vida o Google não poderá responder, porque elas estão do lado de dentro de cada um de nós.
Olhar pra dentro dói, mas liberta, ensina, edifica!
Consegui pensar em tudo isso só pelo simples fato de apertar o ‘desligar’ do celular. E confesso que no início foi difícil me segurar: “e se acontecer alguma coisa?”, “e se o cliente precisar de mim?”, “e se…”, “e se…”? Cheira florzinha, assopra velinha. Calma, Lillian, calma. Vai dar tudo certo.
Por 15 horas, o tal aparelhinho ficou desligado. Consegui fazer coisas que há tempos não fazia por conta desta intoxicação digital:
- Liguei pra minha mãe do telefone fixo
- Tirei fotos com a máquina fotográfica
- Li com calma parte do meu livro
Mas especialmente, parei e pausei pra olhar dentro dos olhos dos meus filhos. Abracei e beijei muito. Neste caso, não eram eles quem mais precisaram de mim; era eu quem precisava me nutrir com esse amor tão genuíno dos filhos na primeira infância, onde acreditam que o mundo é bom e sempre tem uma saída para os problemas, de uma forma sempre muito criativa.
Às vezes, é preciso mesmo se desconectar para reconectar.
Depois que meus filhos dormiram e enquanto me preparava para dormir, escrevi todas as coisas que eu lembrava ter visto nos últimos dias nos sites e redes sociais. O objetivo era segmentar melhor meu feed, fazer minha própria curadoria. E assim o fiz.
Na minha lista, entraram assuntos sobre educação, inbound, autoconhecimento, espiritualidade, notícias felizes. O resto que eu sei que preciso estudar ou receber conteúdo, criei alertas no Google e recebo diariamente pela manhã.
Foi a minha solução para parar de ter tanto input com coisas irrelevantes – pra mim! O tempo é tão curto nesta vida e é tudo tão raro, que realmente desperdiçá-lo com o que não é importante não deve estar em nossos planos.
Por mais SENTIR. Por mais olhos nos olhos. Abraço apertado. Olhar apurado para as belezas do mundo. Olfato atento aos cheiros que nos transportam para as nossas memórias afetivas.
Pra você, o que realmente vale nesta vida?
“Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo para perder
E quem quer saber
A vida é tão rara tão rara…”
Meu beijo,
L.
E desse modo desfrutar da existência de um novo (já conhecido) modo….
Muito interessante sua reflexão sobre a vida mais acelerada e o impacto nas novas gerações. Recentemente, li o ensaio “Da Leveza” do Gilles Lipovetsky (sociólogo francês) em que ele discute como a velocidade é a principal característica da modernidade. Enquanto no início do século XX a velocidade mostrava-se nos carros, aviões e etc, hoje, revela-se, principalmente na leveza proporcionada por tecnologias virtuais: celulares, internet e demais meios de consumo e de comunicação instantânea.
Um abraço!
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Muito obrigada pelo seu carinho!
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