Encontrei no computador da casa dos meus pais este texto; não sei se ele está no blog ainda, mas achei tão sincero e sensato que resolvi deixar aqui para reler… desromantizar nossos conceitos e viver a realidade como ela é e, mesmo assim, ser feliz! Felicidade, afinal, é ou não é um estado de espírito?
Texto de janeiro de 2016.
Hoje foi dia de terapia.
Uma looooonga conversa para que eu fizesse uma retrospectiva sobre a gestação e pós parto de Beni e a nova gestação do Mig, já que agora entramos na reta final.
Vou falar sobre a minha história.
Durante as duas gestações, o começo foi sempre parecido com uma TPM aguda, muito forte. No primeiro trimestre não sofri com enjôos, apenas uma irritabilidade incontrolável e além da conta. Eu não sabia o motivo, mas tinha dias que eu não conseguia conversar com meu marido; tudo me estressava. Até que os hormônios se aquietaram.
O segundo trimestre foi sempre o mais gostoso de todos; muita disposição, a aceitação de que uma nova vida estava por chegar, as primeiras “sentidas”. É um mergulho dentro de um universo desconhecido, mas muito gostoso de ser explorado.
Com o Benício, todos ficaram muito surpresos e emocionados ao saber da gestação, sempre queriam saber como estava passando, ele ganhava muitos mimos e carinhos e isso me deixava muito contente. Já com o Miguel as pessoas não tiveram este carinho explícito; às vezes nem lembravam que ele estava ali crescendo. Dizem que é assim mesmo e que se viesse o terceiro então, já não seria novidade e tudo quase aconteceria por osmose. Na gravidez do Beni o palpite de todos era que seria um menino de cara; já com o Mig, todos pensavam que seria menina. Acho que é porque existe a idealização de ter um casal em casa… eu me lembro que quando eu contei que Mig era Mig para os familiares, quase não houve comoção. Aliás, senti quase um desapontamento por parte de todos. Foi engraçado. Eu vibrei intensamente por vários motivos: apesar de o amor ser o mesmo se descobrisse ser uma guria, e de não sentir uma intuição sobre o sexo do bebê, eu nunca me imaginei mãe de menina. Moleque é mais minha cara, viver livre, solto, sem rodeios e chateações pelos quais muitas meninas passam. Além do mais, pensar no companheiro que ele será para o Benício me deixou profundamente emocionada. Tirando a economia por já ter tudo em casa, já que a diferença entre eles será pequena, de apenas 1 ano e 7 meses.
O terceiro trimestre tem sido bastante diferente; na primeira gestação, estava trabalhando, não fazia atividades físicas, fiquei muito inchada desde os 3 meses e tive pressão alta e afinamento de colo de útero, que fez com que eu ficasse em repouso absoluto por um mês e meio. Nesta segunda gestação, Benício é minha maior atividade física – rs… como não estou trabalhando, pude me organizar para me olhar mais e fazer drenagens uma vez por semana, o que fez uma GRANDE diferença. A pressão segue de normal para baixa. Além de ter descoberto através da Mari a terapia biodinâmica, que foi uma grata surpresa; pude me “esvaziar” emocionalmente de muitos pré conceitos, travas emocionais e me questionar de forma muito positiva sobre diferentes assuntos que, apesar de não ser fácil, acaba dando espaço para receber o que é emoção nova, tendo um outro olhar a respeito.
Com Benício, planejei muitas coisas. Esperava conseguir um parto normal, ter meu marido em casa de férias me ajudando no primeiro mês, imaginei um cenário totalmente diferente estando na maternidade, jamais pensei em depressão pós parto, nunca sonhei em não conseguir amamentar, não achava que era tão real quando falavam sobre a necessidade integral de ajuda no começo e batia o pé que quando ele completasse 5 meses eu voltaria a trabalhar. Então, por conta de pressão alta e por indagações de minha médica que até então eu não conseguia argumentar, marcamos a cesárea eletiva. 22 de julho foi o dia escolhido. 17h30 foi o horário dele. Um canceriano quase leonino. Não ficamos juntos por nem um minuto no centro cirúrgico. Quando voltei para o quarto ele não estava lá. Passou 3 dias na UTI por motivos que até hoje não souberam me explicar direito. Como lidar com este inesperado caos emocional? Não tive leite, Beni não quis mais meu leite porque já estava acostumado com o gosto docinho do leite artificial oferecido na mamadeira no hospital. Os 5 dias de licença paternidade que o Lu tinha direito se esgotaram no dia em que chegamos em casa, no domingo chuvoso de manhã. Na segunda-feira, éramos eu em pânico, inexperiente e sem o apoio emocional do meu marido, que voltou para sua rotina normal, um bebê totalmente dependente e minha mãe que graças a Deus me ajudou muito.
Além do pânico de não me sentir preparada para esta grande missão, eu sentia raiva pela vida do meu companheiro não ter mudado. Por ele continuar vendo pessoas e enfrentando problemas diversos que não o vazamento do cocô líquido e os golfos o dia todo, tirando os choros de cólica e desconforto em não saber como acalmar um serzinho tão pequeno que está sob nossos inteiros cuidados.
Graças a Deus, isso passou logo. Mas foi realmente o primeiro grande sentimento de que a mudança seria muito mais minha que dele. E como lidar com isso tudo de forma tão rápida e repentina? Ter que digerir toda essa novidade? Veio o puerpério. E mesmo não querendo, eu chorava e chorava e chorava muitas vezes sem explicação alguma. As lágrimas simplesmente corriam. Não aceitava um cenário tão diferente do idealizado; não me perdoava por não ter conseguido amamentar meu filho; estava impotente por não fazê-lo parar de chorar e aliviar sua dor. Frustração em cima de frustração. Até que um dia eu acordei, tomei um banho enquanto minha mãe ficava de olho no meu filho, passei a “massa corrida minha de cada dia” para enfrentar o espelho de forma digna, me olhei e disse para mim mesma: CALMA, VOCÊ ESTÁ FAZENDO O SEU MELHOR. E desde então, eu me dediquei a observar cada movimento de Benício, ao mesmo tempo em que prestava atenção no que isso despertava em mim. Então, veio pela primeira vez a sensação de plenitude por poder estar perto dele acompanhando a cada dia seu desenvolvimento. Eu pensava: “um dia de cada vez”. E assim fomos indo, dia após dia. É assim até hoje.
Com Miguel, as duas únicas coisas que peço a Deus que me conceda se for possível pedir, é que eu consiga entrar em trabalho de parto para ficar tranqüila com a sinalização de que meu filho quer nascer, que chegou sua hora e que seja concedido a mim, ao Miguel e a minha família muita saúde. O resto está entregue. Aprendi coisas dolorosas no processo de nascimento e pós parto do Benício: lidar com a falta de controle da situação, frustrações, internalizar que minha liberdade havia sido tomada sem prazo de validade, sentir coisas não tão boas em relação ao meu marido no início (e totalmente inconsciente).
Tenho tentado não criar expectativas; imagino que o processo de noites mal dormidas e o cansaço físico será mais tranqüilo no sentido de já saber o que esperar de um recém nascido em casa. Agora, são outros os questionamentos: como será a relação de Benício com o irmão? Como será que vou me adaptar a logística de ser presente para os dois? Como será a nova transformação que minha relação com o Lu sofrerá? Como será nosso novo ciclo familiar? Quais serão nossos questionamentos como pais?
Durante este ano e meio de maternidade, aprendi muitas, muitas, muitas coisas.
- Tenha expectativas mas não realidades inventadas – isso pode te causar problemas;
- Durante a gestação, faça coisas que te agradem. Coisas que você passará um tempo sem conseguir: ir a shows, teatros, dormir e acordar a hora que quiser, varar a noite assistindo séries e filmes, enfim, coisas que te dão grande prazer;
- Se puder, planeje a sua “Babymoon” ou a Lua de Mel antes da chegada do bebê. Com Benício na barriga conseguimos ir a Europa e foi um grande sonho realizado. Eu me sentia linda, feliz, curtindo momentos deliciosos ao lado do meu marido e aproveitando cada momento de vida proporcionado por esta experiência de estar com o meu amor realizando mais um grande sonho – e gerando outro amor em mim;
- No pós parto, aceite que você também pode passar pelo puerpério. Ultrapasse com dignidade, respeitando cada sentimento que surgir de forma legítima, porque especialmente se tratando de primeiro filho, tudo é realmente novidade e você precisa estar de coração aberto para aceitar o que vier;
- Entenda que nenhum dia será igual ao outro; em alguns, você terá tempo para tomar um banho mais tranqüilo, em outros vai sentir que um furacão passou por cima de você sem deixar resquícios;
- Tenha sempre um caderno em mãos. Isso ajudou muito a criar uma rotina com o Benício e certamente repetirei com o Miguel. Como os dias são muito dinâmicos e como não percebemos quando é dia e quando é noite, ter anotações sobre xixi, cocô, cólica, trocas e alimentação ajuda a saber como tem sido o dia a dia do bebê.
- Entenda que você será julgada infinitas vezes e, até você sentir segurança de que o que estão te dizendo é balela, pode ser que você se sinta a pior mãe do mundo. Depois de um tempo, você vai perceber o que é relevante e o que não é. Mães que observam seus filhos têm argumentos para tudo e os entendem melhor que qualquer outra mulher com várias experiências.
- Aceite toda e qualquer tipo de ajuda. Apesar do Luiz não estar por perto, por um mês tive minha mãe noite e dia comigo e depois durante toda tarde por mais algum tempo e ela me ajudava com várias coisas: desde acordar e me ajudar na madrugada até a deixar o café da manhã preparado, cuidar do Beni para que eu tomasse banho, ir ao mercado comprar o lanche da tarde, passar as roupinhas do neném. Meu pai me levava ao pediatra e nas vacinas, lavava toda a roupinha para mim e brincava com as minhas cachorras para que elas não se sentissem sozinhas, além de recolher a sujeira. Sem eles, não sei como teria sido. O primeiro trimestre com o bebê em casa é como o início da gravidez: uma avalanche emocional. Depois tudo começa a entrar nos trilhos e você não quer mais saber de desgrudar do seu filho.
- Saiba que seu casamento passará por uma IMENSA transformação e que depende de vocês dois fazer com que a experiência seja prazerosa e consciente de que será uma fase desafiadora. Existirá um cansaço extremo. Vocês provavelmente demorarão para se olhar novamente como casal, mas se estiverem conectados, uma noite dormindo de conchinha fará tão bem quanto uma noite de sexo com orgasmos múltiplos. Vocês aprenderão a se curtir de novas formas e passarão a se olhar com mais admiração quando se derem conta do pai e da mãe que se transformaram. Deixe ser tomado por este amor transformador. É a maturidade de passar a enxergar o coletivo e não mais o próprio umbigo.
- Em alguns momentos, você sentirá uma saudade incontrolável de sua vida AF (antes do filho) e se questionará: “o que eu fiz quando engravidei?”. Não se sinta culpada por isso. É normal e pode acontecer com qualquer uma.
- Fale tudo que você está sentindo. Dialogue. Aprenda a colocar para fora. Seu filho não merece nada de ruim que venha de você. Entenda que olhar pra dentro, apesar de difícil, será fundamental. Você passará a lidar muito melhor com seus conflitos internos e resolvê-los muito mais rapidamente.
- Aceite que você pode fazer planos, mas que um mal estar ou doença inesperada do seu pequeno pode colocar tudo por água abaixo. E é normalmente o que acontece se você colocar muita expectativa neste plano. Sou prova viva disso. Agora, sua vida será por um tempo em função do seu bebê.
- Não julgue. Antes de ser mãe, adorava meter o bedelho na vida materna alheia. Até que um dia li uma frase que diz “eu era uma mãe perfeita até ser mãe”. Você terá dias de plenitude, mas os dias de exaustão, choro, cansaço físico e emocional e questionamentos sobre o que fez da vida colocando um filho no mundo vão surgir. E tudo bem.
- Alguns dias, quando meu marido chegava, eu só queria chorar no colo dele. Foi difícil que ele entendesse que eu não precisava falar nada e que eu nem sabia o motivo pelo qual eu queria chorar, mas depois que ele aprendeu a respeitar este meu sentimento, eram plenos os dias em que isso acontecia e que ele simplesmente ficava ali, me acarinhando, sem que precisássemos dizer nada. Aliviava minha alma e me fazia bem pedir colo;
- Independentemente de tudo que dizem, tenha em mente que se suas atitudes como mãe te deixam com a consciência tranqüila, você está no caminho certo. Mães que largam tudo pra ficar com seus filhos não são menos mães das que voltaram a trabalhar após a licença maternidade. Descobri que tudo, absolutamente tudo está ligado a qualidade de tempo que você tem enquanto envolvida em cada papel social que você se propõe. Não é fácil se desdobrar, mas nós mulheres temos um poder único. É uma delícia nos descobrirmos capazes! Tenha um cenário onde você se sinta acima de tudo, FELIZ com suas escolhas. Todos no entorno agradecerão e sua vida será bem mais leve.
- Acredito que a criação dos filhos deve sim envolver leitura e estudos sobre comportamento, aprendizagem, birras, processo de sono e outros assuntos; porém, nada se compara a observação e a sua intuição materna. Essa voz aflorada sempre te dirá se existe ou não algo errado.
- No mais, mergulhe de cabeça nesta experiência e aprecie o poder curativo que tem um sorriso, um abraço e um beijo do seu maior tesouro.
“As melhores coisas da vida não são coisas”.
Depois de tantas reflexões diárias neste mundo materno, estou doida para me aprofundar no universo ‘Mãe de Dois’ agora. Que Miguel chegue em paz, e que nossa família descubra juntos o poder do amor multiplicado e das pequenas sutilezas escondidas em cada dia, os bons e os ruins. E que o Universo e todos os Anjos digam AMÉM.
Lillian