Paz, carnaval…

Atibaia, 5 de março de 2019

Ouvindo “Put your records on” – Corinne.

“You’re gonna find yourself somewhere, somehow…”

‘Nós precisamos pausar.’ Lembro que no final do ano passado, eu e o Lu discutimos sobre o quanto 2018 foi um ano desafiador pra nós e o quanto precisávamos pensar em uma rotinas que nos fizesse desconectar em 2019.

Apesar de não querer viajar no carnaval por causa da loucura, resolvi arriscar e pesquisar um lugar que fosse diferente para os meninos e que nos trouxesse a calma na alma que tanto nossa família estava precisando.

A semana tinha sido uma loucura. A casa em desordem e nenhuma mala preparada. Respirei fundo e me perdoei. Quando Lu chegou na sexta-feira, disse pra ele: “Sem pressa, amanhã ajeitamos tudo e vamos. Que tal uma pizza?”

Eu precisava celebrar a chegada dele em casa às 19h30 – já que as últimas 3 semanas tinham sido exaustivas tanto para ele quanto para mim. Enquanto ele foi jogar bola com os meninos na chuva, pedi a pizza e abri um vinho. Meus sogros chegaram de surpresa e por fim tivemos uma noite agradabilíssima.

O sábado amanheceu chuvoso e preguiçoso. Tomamos café da manhã e ajeitamos tudo. 11h30 saímos para nossa aventura. As crianças dormiram no caminho e no rádio começou a tocar a música que eu amo do Lulu Santos – “Último Romântico”. Quando isso acontece, eu sempre tenho pra mim que é um bom presságio.

Chegamos no Campo dos Sonhos, lá em Socorro, nem tiramos as coisas do carro. Famintos, tratamos de ir almoçar. Comidinha maravilhosa e bem caseira, de fazenda, com umas sobremesas bem mineiras. Lembrei demais da minha avó e dos almoços na casa dela, que sempre terminavam com doce de abóbora com coco ou mamão e aquele queijinho de minas salgadinho que eu amava.

Terminado o almoço, as crianças estavam animadas para conhecer o hotel. No meio do caminho, uma chuva absurda começou. Nos escondemos na casinha de madeira e para passar o tempo contamos para eles a história dos Três Porquinhos. O Lu fingia que batia na porta e os dois ficavam entusiasmados. Pensei no quanto ser criança é maravilhoso, naquela alegria gratuita dos meus filhos ao ouvir histórias de faz de conta…

Depois que a chuva passou, tiramos as coisas do carro e chegando no quarto nos deparamos com um bilhete fofo da recepção. Me perguntei se eles faziam inbound – rs, mas depois não quis investigar. Nos trocamos e fomos todos para a piscina quentinha. Lá, reparei que a proposta de inclusão do hotel era mesmo real. Vimos dois deficientes visuais aproveitando muito todas as instalações… eu e o Lu comentamos sobre os desafios dessas pessoas, sobre o quanto a sociedade não está preparada para atender a todas as demandas das pessoas com deficiência. Não conseguimos prosseguir o diálogo porque Beni e Mimi se entediaram com a piscina.

De lá, jogamos ping-pong, pebolim e repetimos isso algumas vezes – rs. Em todos os cantinhos do hotel tinham frases inspiradoras, que realmente me fizeram refletir.

O celular não pegava, então os livros, jornais, revistas e cadernos para anotar tudo foram providenciais. Pude ter a telinha apenas como minha ferramenta de registro de boas memórias e o acesso remoto a ele me ajudou a estar mais presente: comigo, com eles.

O baile de carnaval noturno não animou meus filhos, que ao final do dia já estavam exaustos e que, por isso, nos fizeram ir para ‘casa’ cedo. Era o fim do primeiro dia das nossas aventuras.

A animação do dia 2 começou cedo. Já no café da manhã, Beni e Mimi ficaram empolgadíssimos e se sentiram super importantes por ganharem um ‘voucher’ para fazer um passeio de trator pela fazenda, conhecer e alimentar os animais. O dia tinha amanhecido nublado e pensei que a chuva pudesse atrapalhar nossos planos, mas não. Foi ali naquele passeio que conhecemos os queridos Jô e André.

Jô, mineira de Itajubá, também estava lá para relaxar. É que ela vinha enfrentando desafios grandes na família com seu pai e irmã; problemas graves de saúde. Seu filho André – Dedé – estava muito animado com aquele passeio. No trator, sentamos no mesmo banco, próximos. Dali, já não separamos mais. Nem eu dela e nem Dedé dos meninos. Jô é uma dessas pessoas lindas que a vida te presenteia e que tem bom papo, ri com os olhos e que sabe que a vida pode ser linda e colorida – apesar de dura.

Naquele dia, demos comida aos búfalos, emas, lhamas, patinhos, porcos, galinhas, marrecos. Conhecemos juntos a vaquinha Amarelinha. Vi o carinho do Beni com os animais, conversando com todos eles e me fazendo enxergar o Lu pelos olhos dele. Ele estava repetindo comportamentos e poder observar de perto o que fazemos por nossos filhos só através de exemplos é muito emocionante.

Andamos de cavalo. De quadriciclo. Vi Beni e Mimi colocarem a vestimenta para descer na tirolesa e meu coração veio na boca, mas senti orgulho da coragem deles. Mimi teve medo, mas Beni foi. Vendo ele ali, entregue, tentei me lembrar quando foi que meu pavor com altura começou. Não resgatei traumas na memória mas pensei o quanto de vida poderia estar perdendo com isso. Depois decidi ter mais compaixão comigo mesma e essa autoterapia ficaria para outro dia.

Conheci Antônio e Analu, marido e filha mais velha da Jô. Eles tinham passado o dia fora fazendo esportes mais radicais, já que Analu já tinha 12 anos e acompanhava o pai nessas aventuras. Ele, de Lisboa, me fez lembrar dos momentos vividos na Terrinha, o sotaque inesquecível e o português de Portugal que não é tão fácil assim – rs.

Encontramos outra piscina quentinha mais legal e descobri que Dedé fazia aniversário 1 dia antes de Mimi. Jô, que disse ser festeira toda vida, tinha encomendado um bolo para André, mesmo já tendo passado uma semana da comemoração. À noite, na hora do jantar, cantamos parabéns pra ele e ela logo chamou o garçom e disse: “Meu sobrinho ficou triste, ele fez aniversário também; amanhã vocês podem providenciar o bolo dele? De chocolate!”

Eu ri da animação dela mas achei linda a preocupação. Quanto tempo alguém não enxerga além? Me senti realmente lisonjeada. Tinha sido um dia bonito de abraços, carinho, alegria, risadas, generosidade e espontaneidade. Reparei cada uma das sensações que meus filhos vivenciavam… mas também reparei nas minhas: eu estava mais calma e feliz por ter encontrado uma alma afim, falando de coisas como se já nos conhecêssemos há anos.

Terminamos o jantar e os meninos, exaustos, dormiram. Também desmaiei. Era o fim do 2º dia da nossa aventura.

E então, chegamos ao dia 3. Acordamos e no caminho para o café da manhã, encontramos um senhor muito gentil que estava varrendo as folhagens do hotel e que se emocionou quando as crianças disseram ‘bom dia’ pra ele espontaneamente, e depois desejaram um bom trabalho e que ele ficasse com Deus. Pude ver a emoção no olhar dele que seguiu com palavras: “esses meninos são verdadeiros Anjos do Senhor, vão com Deus vocês também”.

Pensei na humanidade e a que ponto chegamos quando um simples ato de gentileza e educação é capaz de impactar tanto a vida de uma pessoa. Fui comer intrigada.

Encontramos Dedé e Jô logo cedo. Antônio e Analu tinham ido para mais um passeio radical. Lu foi com os meninos andar de bicicleta enquanto fiquei lendo. Comecei o livro da Ana Holanda e me emocionei demais com as linhas… pude perceber que estou no caminho certo; que há espaço para quem sente demais, assim como eu:

“(…) A escrita afetuosa não tem nada a ver com cartas de amor, e sim com o amor que existe dentro de cada palavra. (…) As mentes brilhantes podem até oferecer soluções para um mundo tão bagunçado como nosso. Mas é preciso algo mais: é necessário buscar um saber que nasce num lugar que não é a sala de aula, não é nos livros, nem nos títulos que a gente acumula com um orgulho volátil. O saber mais lindo é o da vida, da sua presença no mundo, da sua intensidade em tudo isso. E, principalmente, na crença de que aquilo que nasce no coração tem um valor enorme!”

Seguimos para uma caminhada na Fazenda e pudemos ouvir histórias dos monjolos, passar por uma aldeia indígena com casas de bambu e barro cheias de morcegos, degustar as cachaças, doces e queijos feitos na fazenda. Foi um passeio muito gostoso e que durou quase toda manhã.

Dedé caiu pelo caminho e foi relaxar um pouco com a Jô. Beni e Mimi quiseram andar de cavalo antes do almoço. E assim, fomos. Sem pressa, sem chateação.

Nos encontramos novamente na hora do almoço, andamos de cavalo de novo – agora com o André. Andamos de barco. Brincamos no parquinho. No trenzinho. No calhambeque. Rolou confecção de fantasia de leão para o carnaval. Mais piscina. Pausa para o banho animado na casa da tia Jô, depois do Beni ficar triste porque não conseguia nadar na piscina funda.

No fim do dia, a exaustão dele se transformou em irritação. Jantamos, mas respeitamos o tempinho dele. Voltamos para o quarto sem cantar o parabéns para o Mimi com o bolo de chocolate que a tia Jô tinha pedido.

O quarto silenciou e eu finalmente pude assistir aos 3 episódios de “Workin’ Moms” que tinha baixado do Netflix. Depois de uma matéria do Estadão que li na hora do jantar, veio a calhar. Me revoltei em pensar na desigualdade e disparidade de salários entre homens e mulheres, pensei em como o mundo é injusto. E fui dormir.

Assim terminava nosso 3º dia de aventuras.

Enfim, chegamos ao 4º e último dia da nossa aventura. Os meninos acordaram às 6h com calma e tranquilidade; agradeci aos céus pela dádiva de uma noite de descanso.

Entrei no restaurante e a luz daquele lugar estava linda! Parecia final de tarde de outono, quando tem o ventinho mas o sol ainda acolhe nossa alma. Fiz uma oração bem ali, agradeci por aqueles dias e momentos tão maravilhosos.

Tomamos café da manhã já muito animados para mais um passeio de trator – agora na área externa do hotel fazenda. Trio Dedé, Beni e Mimi logo estavam a postos e, desta vez, Analu se juntou a mim, Lu e Jô. Paramos em um mercadinho super simples, mas com placas fofas e mensagens que me fizeram apaixonar. Na volta, a programação se diversificou entre andar de cavalo, andar de barco, remar com o papai e jogar futebol. O dia estava lindo e ensolarado.

Nem piscamos e era hora do almoço. Depois de comermos, finalmente chegava a hora do parabéns do Mimi – rs. Não sei quem estava mais entusiasmado ali. Mas foi lindo! A alegria das crianças é mesmo impagável.

Teve bolo de chocolate com brigadeiro pra dar e vender… que delícia! As crianças saborearam tudo e depois do almoço foram produzi massinha na brinquedoteca com as tias da recreação. Foi quase surreal e inacreditável aquela horinha de descanso. Eu, Lu, Jô e Antônio conversamos sobre a vida, sobre as dificuldades dos casais, sobre o cuidado com os filhos… entre mais bolo (que estava irresistível) e café, aqueles momentos eternizaram.

Era hora de recolher as coisas e retornar. Um abraço apertado em todos e o desejo de que a gente se encontre em breve foi o que mais desejei depois deste feriado maravilhoso e de conhecer esta família tão especial, que já está guardada no coração.

Valeu, carnaval. Você foi do jeito que precisávamos: pacífico e acolhedor.
Deusinho caprichou nos detalhes. 🙂


Meu beijo,
L.

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