Atibaia, 22 de outubro de 2019
Ouvindo “Não quero dinheiro, eu só quero amar” – de Tim Maia
Pelo menos uma vez por semana alguém me pergunta algo sobre a Inbound Soul: “Li, vocês fazem isso na Soul?”, “Li, você sabe se aí na Soul estão aceitando currículos?”, “Li, me explica o que você faz aí na Soul”…
Eu explico, digo o caminho para encaminharem currículos (eu adorava receber os e-mails de quem desejava ser um #SoulLover), mas sempre digo que não estou mais na Soul. O espanto é sempre o mesmo: “Mas você parecia amar lá”.
Sim, eu amava. E ainda amo. Honro e agradeço todos os dias por tudo que a Cris fez por mim, pelo mundo de novas possibilidades que se abriu e pela alegria em saber que eu poderia trabalhar com aquilo que mais amo: produção de conteúdo.
Acontece que a vida é cíclica e muitas vezes, precisamos tomar decisões muito difíceis que sempre trarão consequências. Sempre.
Desde o começo do ano, percebia que meus filhos não estavam bem. Muita agitação, precisando de presença, e naquele momento, eu me dividia entre a mãe que se culpava por não estar ‘bem’ para os filhos e a mulher que queria vencer os desafios diários, buscar mais conhecimento, me destacar profissionalmente.
Pode ser que algumas mulheres consigam lidar bem com isso, com este equilíbrio, mas o fato é que eu não estava mais conseguindo ser as duas de maneira saudável. Comecei a ficar doente. E com raiva. Sim, raiva.
É que o Lu tinha voltado pra São Paulo, e eu não me conformava como a vida para homens era mais simplista – na minha visão da época.
“Por que para o Lu é tão fácil decidir que vai voltar para São Paulo e eu então ter que voltar a ter a maior carga com os meninos, se também pago as contas de casa?”
Eu estava exatamente neste lugar de comparação. Com raiva da vida e me questionando o tempo todo porque a carga para os homens é sempre mais leve e mais ‘interessante’?
Acontece que este ciclo começou a me fazer mal. Envenenava meus pensamentos, envenenava minha relação com meu marido, e tudo isso caía nas crianças.
E tudo isso aconteceu por uns 6 meses… foi um semestre bastante desafiador. A gente evitava falar do assunto porque eu sabia que mexeria comigo, e ao longo deste tempo, fui avaliando as minhas possibilidades. Na Soul, enquanto eu estava cuidando mais da marca em si, conseguia me adequar às entregas e meu coração ficava mais tranquilo… mas em março, voltei a atender clientes, e não consegui lidar com minha autocobrança. Enfiei na cabeça que não estava sendo boa o bastante, na minha lista de planos e cursos frustrados, não encontrava tempo ou energia para fazer o que havia me proposto. Os projetos estavam parados, precisava sair cedo da agência pra buscar meus filhos e lidar com pedidos de atenção deles e dos clientes. Eu estava estafada.
Foi então que um dia minha pressão subiu absurdamente. E eu sabia que era a vida me cobrando uma decisão; decisão esta que eu posterguei o quanto pude.
Enfim, pedi minha demissão porque não aguentava mais ser tantas.
Eu estava querendo enganar quem achando que eu daria conta de tudo?
Foi bonito. Me imaginei vivendo exatamente este texto de Artur da Távola.
Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for. O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento. A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial. A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar. Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas. Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver). Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar. Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude etc é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido.
Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade.
Me despedi dos meus clientes. Me despedi dos meus amigos. Perdi a convivência. Perdi este pedaço de felicidade, sim.
E o que eu ganhei?
Ganhei a permuta com a minha terapeuta para reiniciar esta jornada de autoconhecimento depois de tantas novas experiências.
Ganhei mais tempo e presença com meus filhos, o que os têm deixado mais calmos e com outra interlocução em casa.
Ganhei novo olhar por coisas gratuitas, agora que a grana está mais curta: yoga, caminhada, contemplação.
Ganhei mais tempo para escrever no blog. Ganhei mais tempo para ler livros impressos. Ganhei mais tempo para começar uma reeducação alimentar.
Ganhei uma nova rotina – que ainda está meio bagunçada, mas que eu aceito como parte de toda esta grande mudança.
Ganhei tempo longe do celular…
Ganhei mais liberdade para entender o que realmente faz sentido pra mim.
Ganhei meu marido como colega de trabalho.
O Universo tem dessas coisas… e quando renunciamos a pequenos pedaços de felicidade, saberemos que perdemos algo para ganhar outras coisas.
É a lei da vida. Cíclica. Efêmera. Agora.
Todo meu amor pela Soul, lugar onde me entreguei literalmente de corpo e alma. Todo meu amor pela Prosperidade, este novo projeto que está ressignificando tudo.


Meu beijo,
L.