Atibaia, 17 de junho de 2020
Ouvindo “Assim caminha a humanidade” – de Lulu Santos
Ontem, completamos 90 dias de isolamento social.
Não sei mais definir como me sinto em relação a isso.
Já passei da fase da não aceitação; hoje prefiro viver um dia de cada vez.
Aqui em Atibaia os comércios já foram autorizados a abrir mantendo as medidas de segurança. Comprei luvas para diminuir ainda mais riscos de contágio e o álcool em gel virou meu melhor amigo – assim como pra tanta gente, mas escolhi seguir quietinha em casa, saindo apenas quando for muito, muito, muito necessário.
Cancelei exames e consultas de rotina. Os cabelos estão mais brancos.
O rosto com menos maquiagem. As roupas aos poucos estão sendo revisitadas, questionadas sobre o papel de cada uma dentro do guarda-roupa.
Alguns sapatos já foram doados. Colares, brincos.
Novos cantinhos foram criados para tornar o lar, mais ninho.
O cheiro de insenso que se faz presente todos os dias. A sálvia uma vez por semana.
O evangelho no Lar todas as quintas-feiras. As preces diárias.
As leituras, filmes e séries. O cheiro de pipoca e de bolo pela casa.
As panelas de brigadeiro. A cabana feita com a mesa de plástico.
O nascimento da minha horta e do meu jardim. A caminhada matutina em família.
Quantos novos e melhores hábitos se fizeram.
Quantos já foram meus locais de trabalho neste período? O escritório mesmo, ‘nave-mãe’ de atendimentos e da Prosperidade; a garagem de casa, para ver o movimento e o sol; a cama com a mesinha em cima das pernas em dias mais preguiçosos; a mesinha da cozinha, enquanto esperava o feijão cozinhar…
Mas a partir de hoje, temos um novo QG: a casa dos meus sogros em Atibaia. Mais espaço para as crianças, mais vitamina D ao longo do dia, mais pé na grama para troca de energia, maior horizonte para ver o pôr do sol.

Impressionantemente as coisas estão saindo do papel.
Acha um lugarzinho aqui, encaixa uma agenda ali, e aos poucos, parece que tudo que antes teimávamos em dizer que não tínhamos tempo, agora nos encontrou.
Tinha iniciado uma rotina legal de exercícios, mas acho que já me acostumei à nova vida e sigo me boicotando neste quesito. Troquei os 5 minutos de queima diária pela leitura de crônicas de Carpinejar – rs. Tem dias que a dispersão mental me traz mais benefícios que os exercícios físicos. Mentira! É só uma desculpa para minha preguiça para os exercícios mesmo.
:-p
Os meninos seguem felizes em casa – apesar da implicância entre eles.
Tem dias que dizem palavras feias sobre o coronavírus, e em outros me dizem “pra ver o lado positivo: ele deixou nossa família juntinha”. Venho tentando ensinar sobre o lado bom das coisas, e acho incrível quando eles me lembrando disso.
Montei uma “caixa da gratidão” pra gente. Porque todos os dias eu sei que tem coisas tão incriveis pra gente agradecer… Hoje mesmo, já tenho 3 motivos: o primeiro foi conseguir lavar a louça com água quentinha de manhã. O segundo foi ter sentido o perfume da dama da noite entrar pela porta e chegar ao meu nariz, ativando o olfato e minha memória afetiva da vovó, que amava esse cheiro! E o terceiro foi ter conseguido colocar a internet na casa da minha sogra e possibilitar estar aqui enquanto eles ficam em São Paulo no QG oficial deles.
Percebo a cada dia o quanto somos feitos de pequenezas tão grandiosas. No quanto o aninhar tem tido tanto valor na minha cama pequena, quando estou com meus meninos assistindo a um programa despretensioso, ou na observação das flores do meu pequenino jardim – mas que venho cuidando com muito amor e carinho. No café do meio da tarde com meu amor, mesmo que em pé e tomado em dois minutos por causa das demandas das crianças. Nos dias em que me lembro de registrar o pôr do sol e contemplar o período do dia que mais gosto, ou melhor ainda – quando os meninos me lembram disso. Por seguir com saúde, com a certeza de que isso tudo vai passar.
90 dias.
3 meses.
1/4 de ano.
U m d i a d e c a d a v e z.
Vamos que vamos!
Meu beijo,
L.