Atibaia, 04 de dezembro de 2015
Ouvindo “Baby” – Bebel Gilberto
Hoje foi dia de fazer curva glicêmica. Não que seja um dos exames mais prazerosos do mundo, mas pelo menos ele me concede algumas horas de ócio e – veja só! – isso se torna um baita presente para quem é mãe.
Aproveitei para levar ao laboratório papel, caneta e um livro; senti-me ostentando em meio a todo o resto das pessoas que estavam totalmente voltados para seus próprios celulares e, devo confessar, como foi bom sentir esta sensação de “regressão”.
Bem, vamos ao que me levou a escrever a este post.
Semana passada comecei uma grande ‘observação’; Benício segue crescendo de forma ativa e exigindo cada vez mais. Creio que a parte da infância mais difícil para muitos pais acabou de bater em nossa porta e isso não inclui apenas controlar gritos, birras e manhas. A verdade é que, na minha humilde opinião, a grande dificuldade está mesmo em encontrar a saída para que não aconteça a desconexão total do casal neste momento.
Explico: parte desta ‘observação’ tem acontecido quando eu e Lu temos saído com Beni. Restaurantes se tornam cada vez mais escassos porque, primeiro, não dá mais pra ‘relaxar’ e nem pensar em ficar por muito tempo e, segundo, porque quando saímos acabamos sempre ficando mais sozinhos que se tivéssemos permanecido em casa, já que eu ou ele precisamos interagir integralmente com nosso filho que, de modo legítimo, está tentando descobrir o mundo a seu jeito e sempre acha o máximo ter oportunidade de explorar novos lugares – nem sempre permitidos, gerando muitos ‘nãos’ e, inevitavelmente, irritação.
Por outro lado, em casa, com a energia do Pequeno praticamente inesgotável e a minha e do Lu na reserva há bastante tempo, vejo o estado de caos que toma conta: cômodos da casa parecendo que foram pegos por um furacão, a frustração por não conseguir esperar meu marido chegar do trabalho já cheirosa e renovada – aprendizado que veio da minha mãe – para a melhor parte de nosso dia, o momento com a família completa.
É o que o Lu diz: “muitas vezes nos falta energia para o que de fato importa”.
Se é bem verdade que filhos são a melhor coisa que podem acontecer na vida, também é verdade que muitos deles são mestres únicos que nos exigem diariamente um novo olhar sobre tudo que já havíamos aprendido até aqui a respeito de resignação, tolerância, paciência, flexibilidade e o principal, a resiliência.
Então, nesta fase, digamos, mais ‘desafiadora’, as saídas vão dando lugar aos encontros cada vez mais caseiros com amigos, para que fiquemos mais a vontade e tranquilos em relação a Benício e sua rotina, além de nos proporcionar maior interação com os que ficaram. Sim, outra grande revelação da maternidade foi ter visto muitos de nossos amigos ficando para trás por conta deste filtro natural que infelizmente acontece. São mudanças grandes que não permitem mais que a vida seja a mesma e poucos são o que entendem e se adequam para que o esforço mútuo do encontro continue acontecendo… e assim, muitas vezes, nos sentimos sozinhos como indivíduos e precisamos reinventar amizades, sentimentos e praticar algo realmente difícil quando as coisas não dependem de nós: a aceitação.
Às vezes, bate uma saudade grande de quando a preocupação era apenas decidir para onde ir à noite, sem precisar pensar em um local que tenha espaço kids, se é cedo ou tarde, se o tempo vai mudar e esfriar ou se terá comida apropriada para a fome de meu filho.
Também sinto muita saudade da espontaneidade que existia dentro da minha relação; a maternidade acaba tornando tudo muito previsível, embora os momentos espontâneos sejam realmente uma surpresa. E é aí, nesses pequenos instantes escondidos na loucura diária, que sentimos a esperança e que, apesar dos desafios enfrentados, vamos dando conta do recado da forma como sempre dissemos que seria: juntos, de mãos dadas!
Crescer nem sempre é fácil. O mundo adulto é exigente demais!
A parte deliciosa disso tudo é olhar para Benício e ver em seu reflexo e em suas atitudes o quanto ele se sente criado em um ambiente de amor e tranquilidade e, por mais que em alguns momentos exista nostalgia e saudade, olhar para o presente e nos enxergar pessoas muito menos egoístas e pensando juntas por um bem comum é muito gratificante. É um sentimento de plenitude e loucura, porque apesar de todas as dificuldades, dos problemas enfrentados, se eu me pergunto se trocaria o meu cenário por algum outro a resposta é definitivamente não.
Não que seja fácil; se o casal não estiver bem afinado, muita coisa pode realmente ir por água abaixo.
Por isso é tão importante o diálogo e um pedido extra do divino para que nos olhe e cuide de nossas decisões e atitudes sempre. “Orai e vigiai” todo o tempo.
Em fevereiro, Miguelito chega para completar o quarteto e certamente nos apresentará mais uma série de situações onde a reflexão será obrigatória e um consenso definido. É nossa grande evolução: tentarmos ser melhores aos olhos de nossos pequenos para, assim, nos tornarmos melhores para o mundo como um todo.
Só peço sempre serenidade e a que tenhamos sempre a certeza destas fases transitórias que são tão importantes para nosso próprio crescimento e que, como casal, sigamos unidos e nos cuidando mutuamente.
Temos a vida pela frente para nos olharmos com olhar amoroso e ainda mais admirável por estarmos nos dedicando tão de corpo e alma para a realização de um de nossos grandes sonhos: sermos bons pais. Que Deus esteja sempre presente em nossas vidas e nos auxiliando nesta grande jornada.
“Baby, baby
I know that’s the way…
(…)
It’s time now to learn what I know
And what I don’t know
And what I don’t know
And what I don’t know”
Meu beijo,
L.