Atibaia, 22 de agosto de 2016.
Ouvindo Ben Harper – várias.
Hoje acordei como se fosse meu aniversário – apesar de ser do meu pai. Lembrei-me de que, neste mesmo dia de 2015, chegávamos de volta a Atibaia deixando pra trás mais uma chance em tentar equilibrar a vida e estarmos mais tempo juntos em família. Em São Paulo, as coisas não foram tão fáceis quanto imaginávamos e uma nova gestação não nos deu opção; o retorno a Atibaia seria melhor por diversos motivos: proximidade da minha família, fácil deslocamento, custo de vida mais barato. O tempo juntos, descobrimos, quase não mudou estando lá ou cá. São Paulo tem o ritmo frenético e ficar até mais tarde na empresa para o Lu se fazia necessário ou por demanda ou por conta do trânsito caótico da Raposo Tavares em horário de pico. No fim das contas, descobrimos que ter hora para pegar o fretado acaba sendo mais vantajoso.
Depois da descoberta da gestação, depois de um mês conturbado e da quase não aceitação, depois de não acreditar que eu estava entre o 0,01% da possibilidade de engravidar tomando pílula anticoncepcional, entendi que Miguel era nosso novo milagre. Ele chegou para nos obrigar a voltar ao eixo, a rever conceitos, a entender que nada mais nos era solicitado que não a total resignação pela nossa família, por nossos filhos.
Quando ele nasceu, no dia 22 de fevereiro, enfrentei nos dias posteriores sentimentos duros de encarar: Benício chegou a me rejeitar e eu não estava preparada para isso. Os primeiros três meses foram bastante caóticos por ter dois bebês que por si só já sugam muita energia, mas também para entender o cenário total de tudo de novo que eu e o Lu teríamos que aprender a enfrentar e superar – juntos: o fato de que novos desafios emocionais seriam testados, o fato de que quando um fica doente o outro quase que invariavelmente fica também, o fato de que a exaustão seria/será nossa amiga por no mínimo mais um semestre, o fato de que olhar um para o outro exclusivamente ficará difícil por um tempo, o fato de que nossas contas ficariam muito mais apertadas.
Hoje, seis meses depois de seu nascimento, considero a data um marco. Passamos por este primeiro semestre realmente com um esgotamento emocional fora do comum, mas ver o carinho gratuito dos irmãos e abraços e ‘eu te amo’ ditos espontaneamente pelo Beni nos dá a certeza de que tudo vale a pena.
Eu agradeço a Deus por termos passado por esta primeira fase cansados e unidos, tendo como princípio o diálogo e o amor. O que está fora do eixo, a gente conserta e equilibra com calma, paciência e carinho. Nossos filhos são nossa força! Eles sempre nos guiam para o melhor e mais profundo crescimento pessoal.
Deixo aqui o que pode ser considerada uma oração, tamanha beleza dita em palavras.
Que o medo jamais paralise os nossos sonhos e tudo que desejamos viver em família.
FORJANDO A ARMADURA
Rudolf Steiner (1861-1925)“Nego-me a me submeter ao medo que me tira a alegria de minha liberdade,
que não me deixa arriscar nada, que me torna pequena e mesquinha,
que me amarra, que não me deixa ser direta e franca, que me persegue,
que ocupa negativamente minha imaginação, que sempre pinta visões sombrias.No entanto não quero levantar barricadas por medo do medo.
Eu quero viver, e não quero encerrar-me.
Não quero ser amigável por medo de ser sincero.
Quero pisar firme porque estou seguro e não para encobrir meu medo.
E, quando me calo, quero fazê-lo por amor e não por temer as conseqüências de minhas palavras.Não quero acreditar em algo só pelo medo de não acreditar.
Não quero filosofar por medo que algo possa atingir-me de perto.
Não quero dobrar-me, só porque tenho medo de não ser amável.
Não quero impor algo aos outros pelo medo de que possam impor algo a mim:
Por medo de errar, não quero tornar-me inativo.Não quero fugir de volta para o velho, o inaceitável, por medo de não me sentir seguro de novo.
Não quero fazer-me de importante por ter medo de ser ignorado.
Por convicção e amor, quero fazer o que faço e deixar de fazer o que deixo de fazer.
Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor.
E quero crer no reino que existe em mim.”
Obrigada, meu amor, por mais do que nunca, segurar bem forte em minha mão. E também por dizer comigo o mantra mais famoso da maternidade nos momentos desafiadores: “é apenas uma fase, isso também vai passar…”
Vamos juntos! – “Ainda falta tanta coisa…”
Meu beijo,
L.