Atibaia, 14 de abril de 2020.
Ouvindo “Tocando em frente”, versão de Almyr Sater
Hoje de manhã caiu uma chuva estranha. Veio de repente, densa, forte. Parecia traduzir como muitos de nós estamos nos sentindo nesta quarentena: desaguando.
Ontem consegui conversar com a Isa e com a Li. Elas são minha calma na alma em momentos estranhos, e ontem não foi diferente. Mas deu até dó delas, que ouviram todas as minhas lamúrias e crises existenciais. O cansaço. A exaustão. A incerteza. Enfim, pontuamos tantas coisas e no final, elas entendem que era isso que eu precisava mesmo. Um canal de verbalização, sem filtro, sem edições. Apenas duas pessoas que eu confio muito e uma escuta ativa presente – e isso pra mim vale ouro.
Terminamos o assunto em silêncio. Desses que acolhem a alma e que certamente se estivéssemos juntas fisicamente seria selado por um abraço, algumas lágrimas para o alívio e vinho, diria algumas taças de vinho.
Já são 29 dias em isolamento. A fase de euforia dos meninos por estarem em casa conosco passou. Eles ainda seguem felizes por estarmos juntos, claro, mas passaram a falar mais da escola, da saudade dos amigos e da rotina.
“Esse coronavírus é uma merda!” – durante o dia a fala espontânea de Benício ecoa pela casa.
Antes de ontem meu celular reconfigurou todo. Como praticamente tive que refazer os acessos aos aplicativos, optei por não deixar minhas contas pessoas de mídias acessadas pelo aparelhinho. No final de semana, quis praticar o detox e me fez muito bem – apesar da família toda ter estranhado.
A vida ficou tão mais pesada que neste momento optei por coisas diferentes.
Ho’ponopono voltou com força total.
Sigo tentando lidar com esta falta de controle da situação como um todo, apegada na fé, orando a Deus, me conectando com a espiritualidade, me envolvendo em luzes multicoloridas, minha casa, as cadas dos familiares, dos amigos, do planeta.
Tenho lido mais. Com um tanto de indicação delícia que a Tati me deu pra baixar e ler pelo Kindle, não resisti e agora meu próximo presente material será um ‘oficial’ para a leitura ficar mais prazerosa.
Já li dois livros desde que me permiti à experiência que não o cheiro de papel e as anotações manuscritas.
Hoje, comecei a pesquisar lugares gostosos para passearmos em família quando isso tudo terminar. Meu jeito de demonstrar esperança e a certeza de que nada é permanente. Nem o bom. Nem o mal.
Logo depois do almoço, tomei um banho e fiquei de pijama o resto do dia. Um fofo de nuvens que minha mãe me deu… um jeito de tentar ser poesia nestes dias estranhos. Fiquei trabalhando do quarto, em cima da cama com uma cobertinha nas minhas pernas.
O céu estava lindo. Foi Mimi quem veio me avisar.
Aproveitei e criei um vídeo pelo Google Photos deste primeiro mês de quarentena.
Mais um dia está chegando ao fim. E mesmo sem sabermos uando terá fim, que as oportunidades se renovem a cada dia, que a gente se reinvente quando necessário e que a gente aceite e observe tudo aquilo que precisamos melhorar em nós mesmos.
Coisa mais linda esta música!
“Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou…”
E assim seguimos. Um dia de cada vez. Com calma e com alma.

Meu beijo,
L.