Atibaia, 12 de março de 2020.
Ouvindo “I say a little prayer” – Aretha Franklin
Tentei chegar da casa da minha mãe ontem e escrever este texto, mas ando tão exausta de computador por conta do meu trabalho que preferi me deitar e desanuviar a mente assistindo ao Saia Justa no GNT seguido da estréia do programan Caminho Zen, com a Monja Cohen e a Fernanda Lima.
Mas hoje, era questão de honra.
Porque sinto uma urgência em tentar registrar os detalhes do que me é importante, das rotinas que eu gosto muito, que me norteiam. Beni é um pouco assim também… ele precisa saber qual será o passo seguinte, quais serão nossos programas do final de semana, qual a ordem dos aniversários da família no calendário. Saber o que virá traz calma na alma pra ele. Costumava chamar isso de ansiedade, mas hoje, racionalmente falando, vejo que ele puxou a mim. Não é ansiedade o nome disso, mas sim, segurança.
Pois em nossa rotina semanal, toda quarta-feira é dia de ir visitar a vovó Nina e o vovô Pepê. Eles ficam felizes porque sabem que na casa do vô e da vó é sempre uma festa…
Meu pai nunca deixa faltar cookies ou calypso, e sempre coloca num local estratégico pra eles alcançarem quando chegam na casa deles.
-“Qual suco eles mais gostam?”, ele me pergunta
-“Pai, eles vão tomar o que tiver!”, eu digo
Já que não foi a resposta correta, por observação ele se liga que não pode faltar na casa dele água de coco e sucos de limão, tangerina e uva – bebidas favoritas dos netos mais novos. Dudu já prefere a cervejinha!
Lanchinho garantido, depois lá vai Mimi abrir o congelador da geladeira que fica na parte debaixo para procurar um gelo ou um picolé. E lá vão eles pra fora se lambuzar… (mas não sem antes escutarmos um “vó, mãe, fica aqui comigo?”)
Depois de se saciarem, normalmente vão ver o que está passando na TV. Beni já prefere assistir jogos com o meu pai enquanto Mimi é mais aberto para as sugestões de filmes novos que minha mãe coloca e assiste com ele.
Aqui em casa, eles raramente me deixam escolher um programa novo. O mérito é todo dela, que entra neste mundo lúdico junto de seus netos. Grita se vê um dinossauro, vibra quando o vilão é derrotado, abraça eles quando tem uma cena de perigo ou susto. É emocionante poder viver isso com eles.
Passado algum tempo, lá vem Mimi com a pergunta de sempre:
– “Mamãe, trouxe meu pijaminha?”
Se ele perguntou, já sei que é porque o vovô chamou os meninos para a hora do banho. Os xampus são de heróis como eles gostam, minha mãe normalmente seca eles e põe o pijaminha e depois, penteia o cabelo deles e passa perfume.
Depois deste ritual, Mimi normalmente se aquieta e dorme… Beni ainda demora para conseguir se manter mais calmo, mas aos poucos vai se entregando ao cansaço.
E eu aproveito para tomar um banho relaxante enquanto eles curtem a presença dos avós.
Ontem especialmente, estava quase sem energia. Um cansaço me atingia e eu só pensava no quão desafiador é criar filhos, no quanto existem fases que são tão mais penosas, e pude contar com os ouvidos compreensivos da minha mãe, que me ouviu e me aconselhou.
Agradeci por tê-la aqui comigo. Por ter colo e carinho, palavras de conforto.
Estou há alguns dias tentando marcar de ver alguns amigos, mas ninguém tem tempo disponível. Cada um seguindo com suas lutas, seus afazeres, seus compromissos.
Mas tem dias que a gente precisa mesmo é desta conversa física, olho no olho, abraço, um “calma filha, é uma fase que vai passar!”.
Saímos de lá depois de pedir a bênção, e sei que ela orou com mais afinco. Arrisco até dizer que acendeu uma vela, porque hoje acordei bem melhor.
E por mais que a vida às vezes esteja de cabeça pra baixo, saber que os tenho e que tenho esta rotina confirmada às quartas faz meu coração vibrar muito.
Eu amo vocês, pais.

